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CPMI orçada em R$ 350 mil poupa políticos e acaba em pizza

Foram três meses e meio de trabalho. Vinte reuniões. Dezoito depoimentos, entre convites e convocações. O silêncio de Joesley Batista. A ausência do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. E um custo de R$ 350 mil – isso mesmo, R$ 350 mil – para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da JBS terminar sem apresentar o resultado efetivo ao qual se propôs.

O dinheiro do contribuinte, mais o tempo de 16 deputados e 16 senadores voltados aos trabalhos da comissão desde setembro foram convertidos em um relatório onde o alvo principal acabou sendo o Ministério Público Federal. Nessa quinta-feira, a comissão encerrou suas atividades ao aprovar o parecer do deputado Carlos Marun, do PMDB do Mato Grosso do Sul.

O relatório pede que Rodrigo Janot e o também procurador Eduardo Pellela sejam investigados por investigar o presidente Temer sem a autorização do Supremo Tribunal Federal.

O texto foi aceito em votação simbólica, ou seja, sem contagem de votos no painel, depois que o relator decidiu retirar alguns pontos polêmicos. Neles, Marun endurecia o jogo contra procuradores que investigaram Michel Temer e que resultaram nas denúncias que ameaçaram duas vezes o mandato do presidente da República este ano.

Marun excluiu o pedido de indiciamento dos dois procuradores, além de retirar o projeto de lei que diminuía o poder do Ministério Público Federal na celebração de acordos de delação premiada. Também foi cortado o pedido de investigação de denúncias contra a força-tarefa da Operação Lava Jato. Homem da tropa de choque do presidente Temer, o deputado toma posse nesta sexta-feira como ministro da Secretaria de Governo e se transfere da Câmara para um gabinete no Palácio do Planalto.

A CPMI foi criada com o propósito de investigar irregularidades envolvendo a empresa JBS em operações realizadas com o BNDES entre 2007 e 2016. A comissão deveria investigar, entre outras coisas, o cartel formado no mercado de proteínas animais e os prejuízos aos produtores rurais diante desse monopólio. Além de irregularidades fiscais. Nada disso foi aprofundado.

Para o cientista político da UnB, David Fleisher, o uso da CPMI da JBS para vingar as investigações abertas contra Temer representa um desperdício de tempo e dinheiro aplicados nas comissões de inquérito, e que acabou se tornando comum no Congresso Nacional. “Infelizmente, a história no Congresso Nacional dessas comissões parlamentar de investigação, muitas vezes o objetivo original da comissão é desviado por razões políticas, pelos membros da comissão. Aí dá em pizza no final. Infelizmente isso acontece com muita freqüência”.

Presidente da CPMI, o senador Ataídes Oliveira, do PSDB de Goiás, discorda de quem acusa a comissão de desviar o foco da sua função para bombardear os investigadores da Lava Jato. Segundo ele, o que foi proposto pelo colegiado, foi cumprido. “Como é que nós podemos aceitar que essa CPMI teve como alvo o Ministério Público Federal? Como? Como? Eu acho que qualquer cidadão pensante não tem essa concepção”.

A empresa JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, é a maior processadora de carnes no mundo. Suas vendas ultrapassaram R$ 170 bilhões em 2016, representando o maior faturamento de empresa não financeira de capital brasileiro. Líder no segmento de carne na Austrália e uma das três maiores dos Estados Unidos, a JBS também se estabeleceu no Reino Unido, com o intuito de erguer o maior negócio de carnes da Europa. Os dois empresários então presos.

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