Prestes a completar seis meses de seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff rema contra a crise de popularidade. Ajuste fiscal, pessimismo na economia, infidelidade da base e Operação Lava-Jato mantêm o governo mergulhado em temas de repercussão negativa. Para reverter o quadro, o Planalto deflagra uma ofensiva de olho em dias mais amenos em 2016.
Reforço na comunicação, plano de concessões, incentivos às exportações e a terceira fase do Minha Casa Minha Vida integram a agenda dos próximos meses, que também inclui compromissos internacionais mais robustos, com visitas aos Estados Unidos e à Rússia.
A parceria com o setor privado e países dispostos a investir no Brasil é o caminho para driblar o caixa combalido. A demora na aprovação do ajuste fiscal e a definição tardia do contingenciamento de R$ 69,9 bilhões do orçamento, anunciado na sexta-feira, retardaram as ações de um mandato que se iniciou com panelaços e protestos nas ruas.
Os cortes no Fies e as medidas provisórias que alteraram regras de seguro-desemprego e pensões repercutiram mal na base aliada de Dilma, acusada por tucanos de “estelionato eleitoral” — a investigação dos desvios na Petrobras só ampliou a insatisfação. A derrota para Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na eleição da mesa da Câmara e o rompimento com Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado retardaram o ajuste fiscal e ampliaram o temor de impeachment, cenário revertido aos poucos com a atuação do vice-presidente, Michel Temer, na articulação.
Com diálogo e distribuição de cargos, o Planalto voltou a vencer no Congresso, apesar de alguns tropeços. Em reuniões, Temer insiste na necessidade de aprovar o ajuste fiscal com poucas alterações, já que a conta da flexibilização será paga pelo próprio contribuinte. A ideia é encerrar as votações no próximo mês.
— Vencer o ajuste é necessário para o governo virar a página — diz o senador Humberto Costa (PT-PE).
A dificuldade para romper o tema das contas públicas incomoda o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cobrou de sua afilhada ações ligadas à base petista. Ao ouvir a justificativa da falta de recursos, Lula sugeriu aprimorar a comunicação:
— Se não tem verba, que se use o verbo. Dilma alterou a estratégia em março, na troca de Thomas Traumann por Edinho Silva (PT) na Secretaria de Comunicação (Secom). Nas últimas semanas, o Planalto evitou responder polêmicas criadas em ministérios, a fim de blindar a presidente de turbulências.
O novo ministro admitiu a crise de imagem e traçou um planejamento sem imediatismo. Pesquisas internas indicam leve melhora na aprovação do governo, que bateu em 13% nos últimos meses, segundo o Datafolha. A meta é ter avaliação em alta ao longo de 2016 e 2017.
A nova estratégia também quer aproveitar a atual fase de Dilma, que perdeu 15 quilos desde a posse. A presidente deve intensificar conversas com jornalistas e a inserção de vídeos em redes sociais, movimento que agrada parlamentares dispostos a defender o governo.
— Um panelaço aqui ou ali não pode deixar a presidente enclausurada no Palácio — diz o deputado Henrique Fontana (PT-RS).