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Entre mortos e feridos, uma nova cultura no trânsito é preciso!

Acidente na BR 427; carro pegou fogo; pelo menos 4 pessoas morreram
Acidente na BR 427; carro pegou fogo; pelo menos 4 pessoas morreram

Sexta-feira Santa. O feriado no estado Rio Grande do Norte começa com uma péssima notícia: 5 pessoas morrem na BR 427 próximo à cidade de Acari. Um trecho conhecido por ser muito tranquilo. Os relatos dos colegas no local dão conta um cenário terrível. Corpos jazem próximos aos carros destruídos. Das 5 pessoas que perderam a vida, 3 eram crianças. Não importa quantos anos você tenha de trabalho na estrada, não importa o quanto você esteja acostumando com cenas desta natureza ou quão profissional você seja enquanto Policial Rodoviário Federal. É impossível não se afetar profundamente com perdas desta natureza, que poderiam ser perfeitamente evitadas pelo simples cumprimento da lei e obediência à sinalização.

Mas essa colisão frontal não foi algo isolado. Nos últimos 40 dias essa cena se repetiu diversas vezes no nosso Estado. Mudam-se os personagens, mas o script é sempre o mesmo: alguém não respeita faixa contínua, tenta ultrapassar e colide frontalmente com um carro que vem no sentido inverso. As velocidades se somam no impacto, ferragens retorcidas invadem o habitáculo e provocam politraumatismos nos corpos humanos, provocando colapso orgânico e consequentes mortes.

Busco na memória mas não consigo recordar uma sequência de tantos acidentes graves, com tantos mortos em tão pouco tempo. Tais fatos me fazem pensar que urge uma mudança cultural nesta área. O qualidade do trânsito de um país pode ser uma importante medida da manifestação de civilidade um povo. Não é possível que continuemos a pagar um preço tão alto por essa (baixa) cultura de busca de vantagens irrisórias, onde se arriscam vidas em ultrapassagens suicidas/homicidas pelo “benefício” de poucos minutos de viagem economizados.

Enquanto países de primeiro mundo estão preocupados com infrações modernas como, por exemplo, uso de redes sociais durante a condução, estamos estacionados no passado insistindo no cumprimento de condutas básicas como não ultrapassar em faixa contínua, usar o cinto de segurança TAMBÉM no banco traseiro( conduta esta que teria salvo muitas dessas vidas), uso do capacete de segurança no caso dos motociclistas e não dirigir sob efeito de álcool.

Essa característica brasileira histórica de repúdio à disciplina e desobediência às regras sociais(tão bem descrita por Sérgio Buarque de Holanda em sua obra Raízes do Brasil) precisa mudar urgentemente. Ela é a razão primária da nossa hecatombe no trânsito que vitima 60.000 vidas POR ANO( o equivalente a queda de um boeing com 165 pessoas por dia), 340.000 inválidos POR ANO ao custo social de 40 bilhões de reis POR ANO. Essa realidade é absolutamente insustentável.

A fiscalização tem feito sua parte. No Carnaval a PRF, num esforço hercúleo, conseguiu a façanha de ZERAR as mortes em rodovias federais no feriado do Carnaval no nosso estado, que é o período de tráfego mais sensível do ano.

Mas somente o Divino tem as características da onipresença e onipotência. A fiscalização sozinha não faz milagres. É preciso que cada condutor se comprometa com uma cultura de respeito à sua própria vida e à dos outros no trânsito. Só assim será possível reverter esse quadro.

Filipe Bezerra – Policial Rodoviário Federal, Bacharel em Direito pela UFRN e Estudante de Administração Pública na UFRN

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