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Exposição revela identidade da cultura negra do Seridó potiguar no século 20

Exposição revela identidade da cultura negra do Seridó potiguar do século 20

Os primeiros retratos de pessoas negras do Rio Grande do Norte fotografadas por José Ezelino da Costa no início do século 20 serão apresentadas ao público, pela primeira vez, na exposição “Quando a pele incendeia a memória – Nasce um fotógrafo no sertão do século 19“. O projeto acontece entre os dias 6 e 28 de setembro, no 2º piso do Natal Shopping, paralelamente ao lançamento do livro que dá nome à mostra da professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ângela Almeida. A iniciativa conta com patrocínio do Morada da Paz, por meio do programa de incentivo à cultura Djalma Maranhão da Prefeitura do Natal, com realização da Cultura de Valor, e será apresentada no horário de funcionamento do mall, das 10h às 22h.

A exposição, que tem curadoria de Ângela Almeida e expografia de Rafael Campos e Michelle Holanda, contará com 40 fotografias. Os retratos revelam a identidade social da cultura negra e o dia a dia da região do Seridó, cuja sociedade da época era predominantemente branca, comandada por uma elite de coronéis e fazendeiros. A pesquisadora contou com o apoio da sobrinha-neta do retratista, a arquiteta Ana Zélia Moreira, que apresentou o álbum de família, herança deixada por sua mãe.

A importância histórica do legado de José Ezelino reside nos pequenos detalhes estéticos e sociais de sua fotografia. Um pioneirismo silencioso, que agora vem à tona publicamente. “Não podemos afirmar que José Ezelino quisesse revelar alguma espécie de racismo sobre sua condição de negro ou sobre a sociedade que vivia. Entretanto, podemos perceber que ele provocou por meio de sua fotografia, uma imagem forte de identidade social, principalmente por ser uma sociedade de descendência branca aristocrática. Assim, ele registrou lindamente os negros, seus descendentes da mesma estética que fotografava as famílias brancas que iam ao seu estúdio”, explica Ângela Almeida.

Dada a importância da obra de José Ezelino, cuja arte nunca chegou a ser conhecida para além do público dos arredores do sertão norte-rio-grandense, a proposta é tornar a exposição itinerante, inclusive em Caicó, cidade natal do artista. De acordo com o diretor do Grupo Vila, Eduardo Vila, faz parte da proposta da empresa perpetuar a memória de quem faz a história e a cultura potiguares, resgatando e valorizando figuras que se destacaram no Rio Grande do Norte. “É nossa missão apoiar projetos que valorizam a história do povo potiguar. E José Ezelino merece esse reconhecimento e sua memória deve ser sempre enaltecida”, frisa.

Sobre o fotógrafo

José Ezelino nasceu em 1889, na cidade de Caicó. Filho de pais escravos, tornou-se fotógrafo quando a fotografia ainda era recente para um sertão distante dos centros urbanos do Brasil. Ele conseguiu a façanha de retratar a si e aos seus familiares usando a mesma linha estética das famílias de alta classe da região Sudeste brasileira e dos países europeus colonizadores. Figurino, direção, cenários e captação eram criações do próprio artista. Isso sem nunca ter tido acesso a nenhum tipo de referência, pois sua viagem mais longa foi à cidade do Recife (PE).

Não existe nenhum registro fotográfico semelhante ao de José Ezelino no Brasil. A maioria dos registros é da população negra retratada como vendedores de ruas ou como trabalhadores de baixo escalão. Além dos registros familiares, José Ezelino produziu um vasto material da cidade de Caicó e demais regiões do Seridó. Infelizmente, muitas destas fotos foram perdidas ao longo dos anos, o que fortalece ainda mais a importância do trabalho da pesquisadora Ângela Almeida.

Além de fotógrafo, Ezelino debruçava-se na área musical. Chegou a formar uma banda com repertório de jazz e música sacra. Morreu em 1952, mas seu legado permanece.

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