O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse neste domingo (24) em evento do Cpac 2023 que é preciso resolver alguns problemas de seu partido ao redor do país, de olho nas eleições de 2024. Bolsonaro citou a cidade de São Paulo como um exemplo disso, mas sem citar nomes e aprofundar o que chama de “problema”.
“Faço um apelo para quem está nos assistindo, temos eleições municipais no ano que vem, estamos acertando o partido, aparecem alguns problemas. Conversei com nosso presidente na semana passada”, disse, em referência a Valdemar Costa Neto.
Bolsonaro então citou o Ceará e completou: “Temos alguns outros problemas por aí, vão pintar alguns problemas em São Paulo, a gente vai resolver isso tudo”.
A fala de Bolsonaro, que entrou ao vivo por um telão diante de uma plateia que estava em Belo Horizonte, ocorre no momento em que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tenta uma arriscada coreografia para pavimentar seu caminho à reeleição.
Como mostrou a Folha, o movimento envolve cozinhar em banho-maria um Bolsonaro em baixa, sem irritá-lo a ponto de que ele lance um candidato próprio. Ao mesmo tempo, Nunes quer ampliar espaço na periferia, impedir que Guilherme Boulos (PSOL) cresça entre os mais pobres e até tentar avançar sobre eleitores mais à esquerda.
A última pesquisa Datafolha mostrou que Lula (PT), apoiador de seu rival Boulos (PSOL), tem aprovação alta na capital, de 45%. Enquanto isso, 68% não votariam em alguém indicado por Bolsonaro, com quem vive um jogo de aproximação e recuos.
A pesquisa Datafolha parece ter ajudado a consolidar a percepção do risco Bolsoncaro para a campanha de Nunes. O prefeito chegou a ser enfático ao dizer que gostaria do apoio do ex-presidente, mas oscilou o tom e voltou a dizer que não tem proximidade com Bolsonaro.
O vaivém de Nunes gerou irritação entre bolsonaristas, que veem na postura uma desmoralização de Bolsonaro.
O prefeito, depois da repercussão, minimizou, disse que foi mal-interpretado, culpou “futriqueiros”, pregou união contra a “extrema esquerda” e disse estar “aguardando ter essa proximidade” com o ex-presidente.
Na sequência, em entrevista à Folha de S.Paulo, disse que considera o ex-presidente um democrata e que “está caminhando” para receber o apoio dele, mas que ele não será seu padrinho na campanha.
Aliados de Nunes consideram que um candidato bolsonarista raiz ainda poderia dividir os votos da direita e atrapalhar o prefeito. No entanto, avaliam que o melhor caminho para ele é fugir da polarização.
O ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal Ricardo Salles (PL), bolsonarista raiz, foi retirado do páreo devido à constatação entre o núcleo mais próximo do ex-presidente que a cidade de São Paulo está em momento que pende à esquerda e que só alguém mais ao centro derrotaria Boulos. No entanto, eles cobram a presença de alguém ligado aos valores de Bolsonaro na chapa de Nunes.
Cotado para a vaga de vice, Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro, postou em redes sociais posicionamento que reflete a impaciência com a postura de Nunes entre os bolsonaristas. “Ninguém, repito, ninguém se apropriará de votos bolsonaristas e deixará Bolsonaro distante. A era dos gafanhotos acabou”, escreveu, em recado que foi entendido por Nunes.
AgoraRN