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Roberto Serquiz, presidente da Fiern, defende que sem um dos elementos, indústria não conseguirá se desenvolver - Foto: José Aldenir/Agora RN
Roberto Serquiz, presidente da Fiern, defende que sem um dos elementos, indústria não conseguirá se desenvolver - Foto: José Aldenir/Agora RN

Nos últimos anos, de acordo com a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), a indústria potiguar acompanhou o processo de desindustrialização brasileira. O reflexo disso, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi uma perda de 3,9% no PIB industrial do RN de 2011 a 2021. Entretanto, para um caminho de retomada, de acordo com a Fiern, será necessário seguir com investimentos em três pilares considerados cruciais: infraestrutura logística eficiente, educação de qualidade e segurança jurídica. Para os próximos anos, indústrias de alimentos, móveis e madeiras e construção civil devem nortear o crescimento econômico do estado.

Em entrevista ao AGORA RN, o presidente da Fiern, Roberto Serquiz, afirmou que na carência de qualquer um destes três elementos citados, dificilmente as atividades industriais vão conseguir se desenvolver no Rio Grande do Norte. Para o presidente da entidade, no quesito infraestrutura logística, um grande pacote de investimento na requalificação da infraestrutura rodoviária é considerado essencial, mas não suficiente.

“É preciso planejar no médio e longo prazo a duplicação de rodovias federais e estaduais estratégicas à produção, que conectem grandes polos potiguares, como Região Metropolitana de Natal, a Caicó, Assu, Mossoró, Pau dos Ferros bem como as rodovias responsáveis pela produção como RN-117 integrando a região Oeste à Alto Oeste; RN-118 conectando a região central (Macau-Caicó); RN 203 conectando a região Agreste ao Seridó, além, da BR 304 conectando Natal a Mossoró”, observou.

Ainda segundo Serquiz, a infraestrutura logística deve ir além das rodovias, partindo para o desenvolvimento da malha Ferroviária, que é pré-existente, mas está desativada, aproveitando-se da janela de oportunidades que se abre através do novo Marco Legal das Ferrovias, de 2021 e do Novo PAC 2023 que inseriu o RN no pacote de investimos às linhas férreas. Outro ponto que, segundo o presidente da Fiern, deve ser considerado, é a oportunidade marítima, em especial, ao transporte por cabotagem – por via marítima – no Porto de Natal, que gerou novas oportunidades para navegação de curta distância.

“Impulsionar a conclusão dos projetos necessários à viabilização do Porto-Indústria Verde, na cidade de Caiçara do Norte, com vocação para energia eólica offshore e, também, previsto no PAC 2023. Por fim, importa elevar a vocação de HUB Logístico para o entorno do Aeroporto Internacional Augusto Severo, na cidade de São Gonçalo do Amarante. Planejado como ativo para a área industrial, não conseguiu se concretizar, mas, há um novo momento com a Zurich Airport que nos autoriza a repensar as perspectivas”, acrescentou.

A segunda perna do tripé defendido pela Federação é o fator educação. Para Serquiz, é essencial destacar o grande desafio do Rio Grande do Norte que, historicamente, não alcança as metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). “Os dados demonstram que o Brasil conseguiu crescer, ao longo dos últimos 16 anos, o equivalente a 0,9 pontos na média do IDEB, no Ensino Médio público. Entre os anos de 2009 e 2013 as notas ficaram estáveis em 3,3 pontos. O maior crescimento da série histórica se deu entre os anos de 2017 e 2019 quando a média nacional cresceu 0,4 pontos. Porém, na contramão deste processo, o Rio Grande do Norte que, não só deixou de ser o penúltimo do Brasil em 2019 passando para último colocado em 2021, como a nota caiu 0,4 pontos – diferente dos demais estados que, mesmo nas últimas colocações, registraram aumento médio nas notas –, saindo da nota 3,2 para 2,8”, pontuou.

Conforme o presidente da Fiern, com a falta de investimento em educação – desde a básica à superior –, introdução de investimentos em tecnologia e inovação houve uma perda de espaço na indústria. “O trabalhador brasileiro leva uma hora para fazer o mesmo produto ou serviço que um norte-americano consegue realizar em 15 minutos e um alemão ou coreano em 20 minutos. Isso significa que a produtividade do Brasil é baixa, mas não quer dizer que o brasileiro seja preguiçoso ou inapto. Há atrasos na formação e na infraestrutura das empresas, o que afeta os resultados […] em termos de riqueza, o Brasil produz em uma hora o equivalente a US$ 16,75, valor que corresponde apenas a 25% do que é produzido nos EUA (US$ 67). Comparado a outros países, como Noruega (US$ 75), Luxemburgo (US$ 73) e Suíça (US$ 70), o desempenho do país é ainda pior”, defendeu.

Ainda conforme Roberto Serquiz, o terceiro e último pilar chama atenção essencialmente para a burocracia estatal, em que, para a indústria, reside especialmente nas questões tributárias estaduais e de licenciamento ambiental. “Verificou-se, ao longo de 2023, uma melhora nos processos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) num esforço pelo licenciamento online, mas permanece verificado déficit de pessoal, desatualização de leis, como a Lei Complementar 272/2004 que institui a Política Industrial, a possibilidade de avançar em instrumentos como Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE)”, observou.

Outra questão defendida por Serquiz, que faz parte do terceiro pilar, está em relação ao ambiente de negócios. Segundo o presidente da Federação que representa a indústria potiguar, há dificuldades em termos de competitividade. Como argumento, ele usa como base no Ranking de Competitividade entre Estados, do Centro de Liderança Pública, que monitora e acompanha estados no Brasil, o RN perdeu competitividade.

“Em 2023, o Rio Grande do Norte caiu 2 posições no ranking, alcançando o 8º lugar do Nordeste e 23º do Brasil sendo puxado para baixo devido às baixas notas nas variáveis “Solidez Fiscal” (gasto com pessoal, taxa de investimento, responsabilidade fiscal) e “Eficiência da Máquina Pública” (custo dos poderes, índice de transparência, eficiência e produtividade dos poderes)”, apontou.

“Portanto, uma agenda pública, seja através de uma profunda reforma administrativa (Choque de Gestão), seja por outras iniciativas que busquem solucionar desafios históricos relativos às contas públicas, taxa de investimento e responsabilidade fiscal são urgentes e capazes de impactar diretamente o ambiente de negócios e a competitividade potiguar. Por fim, na esteira de um movimento nacional (Nova Indústria Brasil), a aprovação da Lei que institua a Política Industrial Potiguar faz-se urgente, visto que, as bases do planejamento do desenvolvimento devem-se dar para o médio e longo prazo, constituindo uma Agenda de Estado, e não de governo”, completou.

Tendências da indústria do RN para os próximos anos, petróleo e fontes renováveis

Pensando em crescimento, a Fiern realizou um estudo de prospecção analisando tendência para os próximos anos em 15 segmentos diferentes. Segundo a Fiern, apenas cinco deles demonstraram tendência positiva, com destaque para Petróleo e Gás (+7,06%); Alimentos e Bebidas (+10,19%); Móveis e Madeira (+17,12%); Minerais (+6,82%).

O segmento intitulado Serviços industriais de utilidade pública abarca diversos setores, dos quais: atividades de geração e distribuição de energia, fornecimento de gás, serviços ambientais de água, esgoto e gestão de resíduos. Este grupo de atividades têm crescido de forma consistente desde 2013. “Este crescimento advém de inúmeros investimentos na área das energias eólicas, da expansão da rede de distribuição de gás, bem como do impulsionamento em virtude do saneamento básico e das recentes exigências do marco legal do saneamento. Os demais setores industriais: transformação e extração somados, neste mesmo período, caíram dos R$ 10,3 bilhões para R$ 7,4 bilhões”, disse.

Ainda de acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte, a construção civil é o quinto setor. “É setor pujante na economia potiguar, empregando mais de 33 mil pessoas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados de 2023 e com crescimento de 12,7% (2022 a 2023) foi o setor que, proporcionalmente, mais gerou novas vagas de trabalho no estado”, finalizou.

Protagonista na produção de energias renováveis, o Rio Grande do Norte ainda mantém importância nas atividades petrolíferas. Ainda de acordo com a CNI, derivados de petróleo e biocombustíveis são o terceiro setor da indústria em participação no PIB industrial no RN. “Através da reativação dos poços maduros na região Oeste Potiguar a atividade petrolífera voltou a se fortalecer no Rio Grande do Norte e reativar toda uma cadeia de fornecedores indiretamente impactados. Os números demonstram que o estado se destaca como maior produtor de Petróleo em terra do Brasil, superando Bahia e Sergipe, com produção em Terra (ANP, 2022) de 178,3 milhões de barris – 28% da produção nacional. Sem perder de vista, ainda, que o estado se consolida como o quarto na exploração em mar com 89,4 milhões de barris em 2022”, analisou.

Conforme Serquiz, a descoberta de Pitu, a primeira em águas profundas na Bacia Potiguar, no litoral do Rio Grande do Norte, anima a indústria local. “A Petrobras recebeu em outubro de 2023 a licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para perfuração de poço exploratório em águas profundas da Bacia Potiguar, na Margem Equatorial brasileira. Investimento aproximado de US$ 300 milhões para exploração dos primeiros dois poços exploratórios no campo de Pitu”, afirmou.

“Outra notícia que nos permite analisar com boas projeções o petróleo no RN é a transição do Polo Potiguar, vendido para a 3R Petroleum em junho de 2023. Serão investidos pela iniciativa privada R$ 7,3 bilhões até 2032 na produção de Petróleo e Gás neste pólo, com mais de cinco mil empregos ao longo dos próximos anos”, projeta.

Com base na geração de energia por meios renováveis, para a indústria potiguar, esta é uma realidade consolidada e irreversível, dando ao estado a condição de maior gerador desse tipo de energia no país. “Segundo dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico do RN, em 10 anos, produção de energia eólica cresceu 1.700% no Rio Grande do Norte (saiu de 12 parques eólicos, 248 turbinas e 375,15 MW de capacidade de produção em 2012 para 6.762 MW, 220 parques e 2.700 torres em 2022). Estima-se que em 2012 o Estado tinha cerca de 24.193 empregos no setor, o número saltou para 137.154 ao longo dos 10 anos e irá aumentar substancialmente nos próximos anos”, finaliza.

AgoraRN

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