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Compreender os mecanismos de ação do SARS-CoV-2 no sistema nervoso e as possíveis sequelas neurológicas deixadas pela Covid-19 é um desafio que cientistas ao redor do mundo ainda tentam decifrar. Dentre as várias sequelas relatadas por pessoas que foram infectadas pelo vírus, a perda da memória e a dificuldade de concentração são alguns que preocupam especialistas. Pesquisadores do Instituto Santos Dumont (ISD), em Macaíba (RN), se voltaram para o tema a fim de tentar contribuir nos avanços científicos nessa área. A partir do estudo, o grupo constatou que outro setor pode ser afetado e deve estar atento ao impacto dessas sequelas: o da educação.

O artigo “Sequelas cognitivas da Covid-19 e sua possível relação com problemas educacionais: uma revisão sistemática”, publicado nos anais do III Latin American Workshop on Computational Neuroscience [“3º Workshop Latinoamericano de Neurociência Computacional”, em tradução livre], assinado pelas pesquisadoras Drielle Viana Vieira, Tainá dos Santos Rêgo, Sayonara Pereira da Silva, Maria Carolina Gonzalez e pelo pesquisador Edgard Morya, traz uma revisão dos trabalhos científicos mais recentes que buscaram avaliar os impactos da Covid-19 sobre a memória e o aprendizado.

“Começamos com uma base de 2 mil artigos, e concluímos com cerca de 14. Inicialmente, pode-se pensar que não é muito, mas a verdade é que esse tema ainda tem pouca produção na literatura científica. Muitos estudos estão em andamento, e é tudo muito recente”, explica a mestranda em Neuroengenharia Drielle Viana.

Ela afirma que os estudos mostram um crescente número de relatos de déficits cognitivos e de memória após a infecção pela Covid-19, e que isso pode trazer impactos em dois diferentes âmbitos na educação: no aprendizado de estudantes e na propagação do conhecimento pelos professores. “Optamos analisar esses dois aspectos, e ainda levantamos uma questão que diz respeito ao cuidado extra que será necessário em diagnósticos como TDAH [Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade] ou autismo, por exemplo, que podem se confundidos com sequelas da Covid-19”, completa.

Além da revisão, que vai permitir que outros pesquisadores acessem de maneira simplificada a conclusão dos principais estudos sendo conduzidos sobre o tema, as pesquisadoras sugerem também uma estratégia para melhoria do aprendizado nos casos de déficit de memória. “O uso de jogos interativos e de memória são boas maneiras de oferecer treinos de maneira mais leve e que podem ter impactos positivos no aprendizado”, afirma Drielle.

O trabalho do grupo foi conduzido no primeiro semestre de 2021, quando os relatos sobre a “Covid longa” ainda não eram amplamente difundidos. De acordo com o pesquisador Edgard Morya, o estudo reforça a necessidade da pesquisa científica buscar antecipar determinados problemas e possíveis soluções que impactam diversos setores da sociedade. “Esse trabalho ressalta a importância da pesquisa trabalhar com dados para antecipar alterações como essa, que vemos atualmente na Covid longa de forma frequente”, destaca Morya.

A COVID longa

A Covid longa ganhou status de doença e definição oficial pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Normalmente, a doença surge três meses após o início da Covid-19, com sintomas que duram ao menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo. Ainda não há testes específicos para detectar a condição. Segundo a Organização, os sintomas incluem fadiga, falta de ar, disfunções cognitivas e outros com impacto no funcionamento diário do organismo.

SOBRE O ISD

O Instituto Santos Dumont é uma Organização Social vinculada ao MEC e engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, ambos em Macaíba. A missão do ISD é promover educação para a vida, formando cidadãos por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, além de contribuir para a transformação mais justa e humana da realidade social brasileira.

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