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Brasil inaugura primeira planta piloto para produzir combustível sustentável de aviação no RN
Amaro Sales, presidente da Fiern, discursa durante inauguração da planta - Foto: Alex Régis/FIERN

Brasil inaugura primeira planta piloto para produzir combustível sustentável de aviação no RN
Amaro Sales, presidente da Fiern, discursa durante inauguração da planta – Foto: Alex Régis/FIERN

O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável inauguraram oficialmente, na terça-feira 5, o Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados (H2CA) – primeira planta piloto do Brasil para produzir combustível sustentável de aviação (SAF, sigla em inglês para Sustainable Aviation Fuels).

O projeto representa um investimento de 1,4 milhão de euros (o equivalente a R$ 7,46 milhões) e tem, entre os principais objetivos, chegar a um combustível que ajude a reduzir as emissões de gases do efeito estufa no transporte aéreo brasileiro. A infraestrutura foi instalada no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI do Rio Grande do Norte, a sede do ISI-ER, na capital, Natal, onde amplia a produção do insumo e, segundo fontes do mercado, abre novos horizontes para a indústria de aviação.

Potencial

“Este é um passo importante não só para Natal e o Brasil, mas também para a Alemanha e para o resto do mundo”, disse o gestor alemão Markus Francke, diretor do projeto H2Brasil, que financia a iniciativa. “O Brasil tem um potencial enorme para a redução de emissões, para a produção de SAF e para a exportação desse produto. Isso pode criar uma indústria nova com muitos postos de trabalho”, acrescentou, durante discurso na inauguração.

O diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello, ressaltou que há mais de 10 anos a instituição desenvolve trabalhos que buscam as melhores rotas tecnológicas para o progresso da indústria, com redução de emissões nos processos produtivos. “Esse é o momento de mudar a tecnologia de patamar. Estamos em evolução para uma planta maior, em que será possível a realização de testes para a multiplicação desse combustível em futuras plantas comerciais”, disse Mello.

Projeto para gerar combustível sustentável conta com cooperação alemã - Foto: Alex Régis/FIERN
Projeto para gerar combustível sustentável conta com cooperação alemã – Foto: Alex Régis/FIERN

“O Brasil não tinha planta piloto para isso e agora ela existe. Vamos produzir 5 litros/dia na unidade e as etapas seguintes serão certificar o combustível produzido e completar a avaliação técnica econômica, com valores, preços do produto, e então levá-lo para oportunidades de mercado, abrindo caminho para a construção de destilarias comerciais que produzam o combustível sustentável, um impacto importante para a sociedade porque é nesta hora que serão gerados empregos na construção, na operação, e empregos em uma indústria que paga mais do que a média industrial”, frisou.

Inovação

O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN) e do Conselho Regional do SENAI-RN, Amaro Sales de Araújo, avaliou a iniciativa como “um marco para a tecnologia e a inovação”, complementando que “o Brasil é a bola da vez” no contexto global das energias renováveis e de outras tecnologias centradas na sustentabilidade.

“O SENAI do Rio Grande do Norte traz ao cenário mundial a produção de QAV (Querosene de Aviação) sustentável e isso anima bastante as indústrias, o governo e as instituições. Podemos dizer que a partir de hoje começamos a contar um novo tempo, dessa nova tecnologia que o mundo pede. É um momento importante para a história do Rio Grande do Norte, das energias, do Brasil e do mundo”, disse Sales.

Investimento na planta foi de 1,4 milhão de Euros, cerca de R$ 7,46 milhões - Foto: Alex Régis/FIERN
Investimento na planta foi de 1,4 milhão de Euros, cerca de R$ 7,46 milhões – Foto: Alex Régis/FIERN

Para a governadora Fátima Bezerra, o Laboratório posiciona o Rio Grande do Norte – que já é o maior produtor nacional de energia eólica em terra – ainda mais como protagonista no contexto da transição energética. Ela também destacou parcerias que o governo do estado firmou com o ISI-ER na área e que, nas palavras dela, “resultaram em ações muito importantes para expandir cada vez mais esse protagonismo”.

Presidente da Airbus ressalta importância do projeto para o Brasil e o mundo

Gilberto Peralta, presidente da Airbus Brasil, ressaltou a importância do projeto para a descarbonização e para a indústria de aviação no Brasil e no mundo. “Um laboratório como esse ajuda a aumentar a capacidade de produção, encontrando novas rotas para a produção do combustível. Isso aqui é muito importante porque cria escala. Poucos países têm o potencial de produzir SAF como o Brasil e essa iniciativa é importantíssima para desenvolver essa indústria. Um negócio crucial para o desenvolvimento desse combustível para o Brasil e para o mundo”, frisou o executivo.
“Como fabricantes de aviões, ficamos ansiosos para que se tenha o combustível disponível. Os nossos equipamentos já estão sendo produzidos para usar o SAF”, acrescentou ele.

Projeto

O início da operação do Laboratório H2CA ocorre em um contexto em que, a partir de 2027, o setor aéreo brasileiro terá de reduzir as emissões de Carbono de voos internacionais. O gás é um dos vilões do efeito estufa. “O uso do SAF será obrigatório e já estamos testando esse uso”, disse Peralta. Hoje, uma regulamentação da ANP já permite a adição de 50% de SAF à composição de combustíveis fósseis (à base de petróleo).

O projeto de produção do Combustível Sustentável de Aviação no Rio Grande do Norte é executado por meio de parceria entre a Cooperação Técnica Alemã para o desenvolvimento sustentável (na sigla alemã GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit) e o SENAI-RN. A iniciativa é realizada por meio do ISI-ER, com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e participação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Esta é uma planta piloto com maturidade industrial, que possibilita passarmos da escala de produção experimental que tínhamos até então para uma escala maior, piloto, permitindo o desenvolvimento de testes e de novos produtos em condições reais de operação industrial”, diz a pesquisadora doutora em Engenharia de Petróleo do Laboratório de Sustentabilidade do ISI, Fabiola Correia, coordenadora do projeto. “Até outubro deste ano”, acrescenta ela, “a expectativa é ter a primeira amostra do combustível para buscar a certificação junto à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e apresentar o produto ao mercado”. “Só após a certificação a etapa de comercialização é possível”.

A produção

A perspectiva com o Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados é elevar de 200ml/dia para até 5 litros/dia a produção de Syncrude, o petróleo sintético desenvolvido no Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis para ser transformado em SAF.

A capacidade de produção somente do combustível será dimensionada por meio de estudos e experimentos práticos na área. Estudos de viabilidade técnica e econômica também deverão estimar, até o final do ano, o preço do combustível.

O SAF será obtido a partir de glicerina, coproduto da indústria de biodiesel com alto valor energético, mas atualmente subutilizado no Brasil ou exportado com baixo preço de mercado. A oferta do produto em excesso e o custo reduzido trazem perspectivas de barateamento para o novo combustível, segundo informações da pesquisadora, imprimindo, ao mesmo tempo, valor agregado ao produto.

A glicerina, para produção do SAF, é transformada em gás de síntese por meio de recirculação química – processo em que a matéria-prima é convertida em uma mistura de hidrogênio renovável (H2V) e monóxido de carbono (CO), insumos necessários para a obtenção do combustível líquido. O gás de síntese é enviado para um “reator de Fischer-Tropsch. A partir desse ponto é convertido em combustível sustentável de aviação, o Querosene Sustentável de Aviação.

O laboratório também deverá operar como unidade de testes para a indústria de aviação brasileira. O QAV produzido, segundo as instituições envolvidas, será certificado pela ANP e terá seus processos otimizados com o tempo para atender as necessidades da indústria.

AgoraRN

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