“Este foi um momento preocupante”, narrou a potiguar Sônia Faustino, de 80 anos, ao relembrar dois dos momentos mais tensos vividos durante os ataques do grupo terrorista Hamas a Israel, que começaram no último sábado, 7, e deixaram mais de 1.800 pessoas mortas no país do Oriente Médio. Ela voltou a Natal na última quinta-feira, 12, oito dias após ter chegado a Tel Aviv com um grupo de potiguares que foi à região por meio de turismo religioso.
Dois dos momentos mais tensos, segundo ela, foram em meio a explosões. Um deles, a vibração sentida em meio a um bunker – construção fortificada para resistir a projéteis em meio a conflitos – em que ela temeu. “Senti como se fosse o fim da minha jornada. A quarta vez que estávamos no abrigo que veio um impacto mais forte de bomba, como se tivesse jogado no edifício que estávamos, mas nos explicaram que eram interceptações dos mísseis”, relatou.
O outro momento que não sai da lembrança foi, principalmente, em virtude do sentimento de mãe. “Não querendo me promover, mas neste momento eu me joguei sobre o corpo da minha filha tentando protegê-la, pelo instinto materno, que foi esse momento que pensei que seria o fim de toda a jornada. Foram momentos marcantes”, disse a idosa.
Segundo Sônia, foram cinco dias intensos em Israel e as idas aos abrigos de segurança eram constantes. “Muitas sirenes. A todo tempo a gente indo para o abrigo de segurança. Era um hotel muito bom, com um abrigo muito seguro, mas eram momentos de muita angústia, tensão”, relembrou.
Ela contou que foi apenas ter noção da gravidade da situação após o grupo de brasileiros ser avisado por um porta-voz do hotel que o país estava sob ataque. “Chegamos na sexta à noite, e já na hora do café [no sábado], soubemos das bombas de madrugada. Como o grupo estava cansado, pela distância de Natal até Tel Aviv, com escala até Lisboa, o grupo todo não escutou. Veio a surpresa e ao mesmo tempo, quando senti que o porta-voz do Hotel que estávamos, que nos falou das bombas na madrugada, e que havia tido uma declaração de estado de guerra, na minha perspectiva um pouco professoral já vi que a coisa era muito séria”, lembrou.
O roteiro de volta de Sônia contou com a embaixada brasileira em Israel e também com um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) direto de Tel Aviv para o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. O início da rota foi deixar o hotel em que estavam para um local determinado pela embaixada, que ficava na mesma avenida. “Fomos de táxi até o local indicado pela embaixada. Foi feito o recadastramento. Foram situações que só tinhamos visto em filme. Desde as idas aos bunkers, até a última experiência no aeroporto, de se jogar no chão.”
Do Rio de Janeiro vieram para Natal. Mas ainda em solo israelense, as tentativas de sair do país foram frustradas. “Tentamos várias companhias que estavam operando. Faziam reservas mas cancelavam logo depois”, recordou a idosa.
Pelo menos 25 potiguares estavam no país para uma viagem de peregrinação. Após dias de tensão em Israel, o conflito os acompanhou praticamente até o momento de irem embora. “Até deixarmos [Israel], no último instante, para embarcar no voo de resgate, foram muitos momentos de tensões. Quando estávamos na fila de embarque, houve um novo ataque, dessa vez a bomba não caiu no aeroporto, mas recebemos os comandos de alerta, tivemos que nos deitarmos até passar o momento de perigo”, contou.
Ainda sob a tensão, Sônia Faustino fez questão de dizer que conhece o contexto histórico da região, que tem conflitos por longos anos, mas que ainda busca um ressignificado de toda a experiência vivida. “E eu ainda estou nesse processo de entendimento, de reelaboração do acontecido. E às vezes a gente tem uma perspectiva bem religiosa. A gente fala que tudo tem o tempo de Deus, o plano de Deus. Ainda não consegui nenhuma resposta ao que aconteceu”, refletiu.
A oração, aliás, foi uma aliada do grupo do qual Sônia fazia parte, já que a fé era o principal motivo deles terem visitado Israel. “Na perspectiva individual, e que foram momentos de muita tensão, muita reflexão. Como éramos um grupo religioso, muita oração. Sempre a esperança permeando nossos momentos.”
No entanto, em relação à experiência, o lado positivo – além da possibilidade de voltar com vida – são os laços de amizade cada vez mais estreitos com o grupo de potiguares que esteve no local. “Eu me senti privilegiada de estar em um grupo de jovens com muita fé e encantadores. Foram revelações incríveis destes jovens, todos casais, com filhos. Foi muito bonita essa integração. Acredito que vamos continuar com esse vínculo que a vida nos proporcionou”, finalizou.
*Publicado originalmente na edição impressa do AGORA RN deste fim de semana, dias 14 e 15 de outubro de 2023.
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