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O Triunfo do Cristianismo ante o fatalismo, o desespero cósmico, o terror de entidades ocultas, aliados à imensa dignidade conferida à pessoa humana, a subversão dos aspectos mais cruéis da sociedade pagã, a desmistificação apesar de parcial do poder político, a habilidade de criar uma comunidade moral, a exaltação da caridade acima de todas as virtudes, fizeram, para David Bentley Hart, o que pode ser chamado, no sentido mais completo, de revolução: “uma revisão gigantesca e histórica da ideia de realidade que predominava na humanidade, tão profunda em sua influência e tão vasta em suas consequências que realmente criou uma nova concepção de mundo, da história, da natureza humana, do tempo e do bem moral”. Com o tempo e o esquecimento, tudo pode parecer ordinário e previsível, mesmo as coisas excepcionais e implausíveis que moldaram a civilização ocidental, “coisas de fascínio incalculável e beleza inexprimível, cuja conhecimento ainda pode nos assombrar, deleitar, atormentar e transfigurar”. Os últimos tempos são de euforia para os antagonistas da religião, o mundo entrou numa era de ouro do ataque à servidão aos credos. Jornalistas, biólogos, filósofos menores, moralistas amadores, romancistas, atores cantam as virtudes do desencanto espiritual e a insurreição contra “as religiões, mais estritamente o monoteísmo, mais especificamente o cristianismo e mais precisamente o catolicismo romano.” As razões seriam as mãos sujas de sangue, de guerras e perseguições, intolerância, fanatismo, superstição, fundamentalismo, divisão e opressão”. Não é a religião que oprime e mata. Politeístas, monoteístas e ateus, estes até mais prolificamente, matam, mostrando o grande peso da vontade humana, perseguem, oprimem por suas verdades, fidelidade a juramentos, por fé, sangue, solo, império, grandeza, nacionalismo, utopia socialista, dinheiro, orgulho, ódio, inveja, ambição. A religião, na realidade, através de um ideal compassivo pode amenizar ou frear a vontade de agir injustamente. Cristo ordenava a seus discípulos que amassem seus inimigos, fazendo do argumento de que religião é violência uma bobagem. A ideia de que uma sociedade laica seria mais tolerante e menos inclinada à violência não se sustenta. Foram os governos seculares da era moderna os responsáveis pela violência mais selvagem. E da mistura de materialismo somado à compreensão da natureza como um mero fenômeno bruto e natural, sem princípios morais e movidos pela necessidade de subsistir, não se pode esperar nada brando. Compaixão, piedade e caridade não são coisas que encontramos na natureza, nascem de convicções culturais que poderiam nunca ter nascido. São heranças do Cristianismo “os ideais de justiça para os oprimidos, que a igreja tirou do judaísmo, o idioma especial da caridade, próprio do cristianismo, a doutrina do amor universal de Deus, a exaltação do perdão sobre a punição”, escreve Bentley em A Revolução Cristã. Muitos dos mais importantes princípios da tradição moral ocidental “derivam da ideia nitidamente católica da sacralidade da vida humana, do valor único de cada pessoa, em virtude de sua alma imortal”, escreve Thomas E. Woods Jr. em Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. Ideais nobres, como igualdade e direitos humanos universais derivam, como disse Alexis de Tocqueville, do cristianismo “os maiores gênios de Roma ou da Grécia nunca apresentaram a ideia de igualdade de direitos”, vem do cristianismo a visão da igualdade das almas perante Deus. O que faz Nietzche completar “este conceito envolve o protótipo de todas as teorias de direitos iguais”. Richard Rorty, Darwinista comprometido, admite que a evolução, onde os fortes prevalecem e os fracos são deixados para trás, nunca poderia ser a fonte dos direitos humanos universais, e reconhece que o conceito vem das “afirmações religiosas de que os seres humanos são feitos à imagem de Deus”. Apesar do aparente confronto entre ciência e religião, Em A Busca da Verdade, Nancy Pearcey escreve “a ciência ainda tem que presumir que o mundo tem uma ordem inteligível”, então se há uma ordem a ser decifrada, “a ciência só pode prosseguir, se adotar uma visão de mundo essencialmente teológica”. John Gray escreve “os ideais da liberdade de decisão não vem da ciência, suas origens estão na religião” e completa “não de qualquer religião, mas da fé cristã”, assim “o humanismo é apenas uma versão secular dos princípios cristãos”. Embora Marx desprezasse a religião, sua economia política assombrosamente busca se alinhar com o cristianismo apocalíptico, a desigualdade era responsável pela desgraça do mundo, o confronto entre o bem e o mal terminaria com a vitória da justiça e o estabelecimento de um paraíso terreno. Onde essa ilusão fincou raízes, politizou todos os aspectos da vida, resultando no esmagamento da liberdade e no apagamento da memória histórica e cultural, além da perseguição da fé, submissão econômica ao Estado, empobrecimento em massa e milhões de assassinatos. É essa religião secular que no formato de totalitarismo brando, com as armas do ceticismo, do ateísmo, do multiculturalismo, do politicamente correto, disputa com as religiões e, particularmente com o cristianismo, que deseja destruir, a condução moral do Ocidente. Pessimista, Rod Dreher escreve em Não Viva Uma Mentira “A guerra cultural está em grande parte terminada – e a perdemos”, C.S. Lewis diz que o mundo hoje é “um território ocupado pelo inimigo”. Dreher, próximo ao final do livro, dá como um suspiro de alívio “nossa causa parece perdida…mas ainda estamos aqui”. Muitas forças disputam o futuro e o cristianismo às vezes não parece ter a força de seus rivais. Mas a morte da religião e do cristianismo, que Nietzche chamava religião dos escravos, por seu zelo compassivo pelos fracos, marginalizados, debilitados e doentes, não virá sem consequências históricas. “Nietzche nunca se iludiu de que a humanidade poderia se livrar da fé cristã, simplesmente conservando a moral cristã em versões diluídas, tais como consciência social ou compaixão humana inatas”, escreve David Bentley, “ele sabia que o desaparecimento de valores culturais do cristianismo levaria, gradual e inevitavelmente, a um novo conjunto de valores, cuja natureza ainda estaria por ser decidida”. Para o bem ou para o mal.

Veja também: A ideologia Woke; leia artigo de Dr. Geraldo Ferreira

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