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Ebrahim Raisi
© Reuters/Wana News Agency/direitos reservados

Mais de uma centena de mortos e 141 feridos, alguns em estado crítico – este é o balanço mais recente de vítimas de duas explosões ocorridas nesta quarta-feira (3) no Sul do Irã, durante cerimônias de homenagem ao general Qassem Soleimani, um herói do regime iraniano, morto em 2020.

Os números foram confirmados à imprensa por Mohammad Saberi, chefe dos serviços de emergência da cidade de Kerman, admitindo que o número de mortos ainda pode subir.

Mostafa Khoshcheshm, um analista político iraniano, afirmou à televisão al Jazeera, do Qatar, que há várias crianças entre os mortos.

O governo determinou que quinta-feira (4) seja um dia para “o país fazer o luto” , “após a ação terrorista em Kerman”, informou a televisão estatal.

Várias horas após o atentado, a responsabilidade pelo ataque ainda não tinha sido reivindicada.

O governo iraniano apontou o dedo a um “inimigo”, sem especificar quem. A referência pode ser os Estados Unidos da América, Israel – que os ayatollah juraram destruir –, o grupo sunita Estado Islâmico ou o ISIS.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, publicou um comunicado condenando o “ato covarde” e “odioso” que fez 103 mortos, garantindo “castigo” aos responsáveis.

“Sem dúvida, os autores deste ato covarde serão em breve identificados e punidos por essa ação odiosa pelas forças [iranianas] de manutenção da lei e da segurança”, declarou.

“Os inimigos da nação devem saber que tais ações não poderão nunca abalar a sólida determinação da nação iraniana”, acrescentou Raisi.

O ministro da Administração interna e comandante dos Guardas da Revolução, Ahmad Vahidi, pediu aos iranianos que não acreditarem em especulações nem espalhem rumores.

A dupla explosão aconteceu em um cemitério na cidade de Kerman, perto da mesquita Saheb al-Zaman, onde se encontra o túmulo do general Soleimani.

Uma multidão havia se reunido no local para uma cerimônia que homenageava o general, segundo a agência francesa AFP.

A agência Tasnim reportou que os artefatos explosivos foram colocados em malas de viagem e aparentemente detonados remotamente. A versão contraria relatos anteriores que apontavam para dois homens-bomba suicidas. Nenhuma das versões foi confirmada oficialmente.

Uma mulher disse à televisão estatal iraniana que uma das bombas foi colocada em um contêiner de lixo. “Não fiquei ferida, mas as minhas roupas ficaram cobertas de sangue. Tinha acabado de atravessar a rua quando a bomba explodiu”, afirmou.

Ao site de notícias da agência semi-oficial ISNA, o representante de Kerman no Parlamento, Mohammad Reza Pour Ebrahim, afirmou que a segunda explosão foi mais forte que primeira.

“Estou neste momento no Hospital de Shahid Bahonar, em Kerman, para onde os feridos foram transportados”.

O cemitério foi evacuado e a área ficou sob controle das forças de segurança, com as pessoas a sendo alertadas para entrar em contato com o Ministério da Informação, caso tenham testemunhado algo suspeito.

O general Qassem Soleimani, morto em Bagdad em 2020, era um homem-chave do regime iraniano e uma das personalidades mais populares do país. Foi morto em um ataque por um drone norte-americano durante a guerra no Iraque.

A ocorrência de um atentado precisamente durante cerimônias em sua honra, quando o Oriente Médio atravessa um período de tensão devido ao conflito entre Israel e o grupo Hamas, na Faixa de Gaza, não deve ser simples coincidência.

“Tudo pode acontecer nesta região”, opinou Marwan Bishara, analista político, entrevistado pela al Jazeera. Há “nuvens de guerra negras” se juntando sobre o Oriente Médio, acrescentou, depois de vários dias de escalada das tensões regionais.

“Há tanta violência contida, tanta tensão acumulada, tantos conflitos e tantas partes em movimento. Do Mar Vermelho à fronteira Irã-Iraque, ao Iémen, ao Golfo, basicamente em toda região há um potencial de agravamento.”

“Há tanta violência contida, tanta tensão acumulada, tantos conflitos e tantas partes em movimento. Do Mar Vermelho à fronteira Irã-Iraque, ao Iémen, ao Golfo, basicamente em toda região há um potencial de agravamento.”

A pergunta que analistas fazem agora é “quem foi o responsável” pelo atentado, como disse Hassan Ahmadian: “O presidente [do Irã] Raisi vai, obviamente, falar em vingança, mas a questão permanece – quem foi?”

“O ISIS demonstrou que está disposto a matar muitos civis. Ou Israel pode ter decidido escalar a guerra contra o Irã para o forçar a fazer algo que arraste os Estados Unidos para um conflito. Estas são as possibilidades”, acrescentou.

Um dos principais aliados do Irã, a Rússia, condenou o ataque e o presidente Vladmiri Putin enviou condolências.

“O assassinato de pessoas pacíficas que visitavam um cemitério é chocante por sua crueldade e cinismo”, escreveu Putin em carta enviada a Raisi e ao líder supremo ayatollah Ali Khamenei. “Condenamos o terrorismo sob todas as formas”, acrescentou o presidente russo na mensagem ao seu aliado.

Bagdad condenou em comunicado “o ataque terrorista em Kerman” e ofereceu assistência “para aliviar o impacto deste ato covarde e criminoso”.

“Em uma demonstração de solidariedade, o nosso governo está ao lado do Irã, expressando apoio tanto ao governo iraniano como a seu povo nesta hora difícil”, diz o texto publicado pelo executivo iraquiano.

O braço político do grupo rebelde iemenita Houthi também emitiu nota de condenação do que chamou de “bombardeio criminoso” no aniversário de morte de Soleimani.

A União Europeia condenou “um ato terrorista”:

“Este ato de terror teve um custo chocante em mortes e feridos civis. Os nossos pensamentos estão agora com as vítimas e suas famílias. Os autores devem ser responsabilizados”, diz comunicado emitido por Bruxelas.

*É proibida a reprodução deste conteúdo

Agência Brasil

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