Operações militares e policiais foram realizadas em todo o Equador nesta quinta-feira (11), em resposta a uma onda de violência e à detenção de cerca de 180 agentes penitenciários e funcionários por presidiários, com o governo prometendo travar uma guerra contra as gangues criminosas que culpa pela agitação.
O aumento dramático da violência nesta semana — incluindo a invasão de uma estação de TV, explosões inexplicáveis em várias cidades e o sequestro de policiais — parece ser uma resposta aos planos do novo presidente Daniel Noboa para enfrentar a terrível situação da segurança.
Noboa se comprometeu, entre outras coisas, a manter os líderes de gangues presos em novas prisões de segurança máxima. A expectativa é que o governo compartilhe detalhes sobre as instalações planejadas nesta quinta-feira.
Noboa, que assumiu o cargo em novembro, decretou um estado de emergência de 60 dias, enviando os militares para as ruas e nomeando 22 gangues como grupos terroristas, e disse na quarta-feira (10) que a ajuda dos Estados Unidos era esperada dentro de alguns dias.
O presidente, de 36 anos, está sendo apoiado pela Assembleia Nacional, que muitas vezes é controversa e votou por unanimidade na noite de quarta-feira para apoiar seus esforços de segurança até o momento.
As autoridades divulgaram poucas informações sobre a situação dos 158 agentes penitenciários e 20 funcionários administrativos feitos reféns desde segunda-feira (8) em pelo menos sete prisões.
“A situação é muito preocupante, ainda não sabemos quais são as condições internas”, disse Carlos Ordóñez, vice-presidente da associação de funcionários em prisões. “Ninguém entra, ninguém sai, não temos informações exatas.”
Ordóñez disse que os militares assumiram a administração dos locais onde há reféns.
Vídeos que supostamente mostram funcionários da prisão sendo submetidos a violência extrema, incluindo tiros e enforcamento, circularam nas mídias sociais, embora o comandante das Forças Armadas, contra-almirante Jaime Vela, tenha dito na quarta-feira que nenhum refém havia sido morto.
A Reuters não pôde verificar imediatamente os vídeos.
“Por enquanto, entendemos e esperamos que não sejam nossos pares nos vídeos. Achamos que todos eles ainda estão vivos”, disse Ordóñez, acrescentando que seu grupo entrou com um pedido de habeas corpus para tentar pressionar o governo a fazer mais.
Há cerca de 2.600 agentes penitenciários em todo o país para administrar 32.000 prisioneiros, sem contar os centros de detenção para jovens.
“Pedimos a libertação de meus pares e depois melhores condições de trabalho”, disse Ordóñez.
A agência de prisões SNAI disse em um comunicado nesta quinta-feira que houve distúrbios durante a noite em duas prisões e a fuga de três detentos de outra.
As operações para libertar os reféns estavam em andamento, acrescentou.
O Equador faz fronteira com a Colômbia e o Peru, produtores de cocaína, e se tornou um importante ponto de embarque de drogas. Enquanto seus vizinhos intensificaram os controles em suas fronteiras esta semana, os militares do Equador realizaram incursões e apreensões de armas em todo o país.
Vela disse na quarta-feira que 329 pessoas, a maioria de gangues como Los Choneros, Los Lobos e Los Tiguerones, foram detidas desde que o presidente declarou estado de emergência na segunda-feira.
Os policiais também têm sido alvo de sequestros. A polícia informou que nove deles haviam sido sequestrados no início da semana, mas não se sabia quantos ainda estavam em cativeiro na quinta-feira.
As ruas de Quito e Guayaquil permaneceram mais calmas do que o normal nesta quinta-feira, com as aulas escolares acontecendo virtualmente e muitas pessoas trabalhando em casa.
Imagens de homens armados tomando um estúdio de TV da emissora pública TC na tarde de terça-feira (9) foram transmitidas ao vivo por cerca de 20 minutos e foram manchetes em todo o mundo.
Alina Manrique, uma jornalista de 39 anos de idade, que estava entre os reféns, disse que temia ser morta e imaginou que nunca mais veria seus filhos.
Ser resgatada pela polícia depois que os homens armados se renderam foi como “renascer”, disse ela.
“A intenção deles é clara para mim, para que todo o mundo veja que eles eram capazes de fazer isso às duas da tarde, de atacar um canal de TV e colocar 50 jornalistas, uma cidade, um país de joelhos”, disse Manrique.
O colega de Manrique, José Luis Calderón, disse à Reuters na quarta-feira que os homens armados disseram várias vezes que faziam parte de La Firma, uma gangue associada a Los Choneros, uma das gangues apontadas como organização terrorista por Noboa.
A aparente fuga do líder da gangue Los Choneros, Adolfo Macías, da prisão no fim de semana contribuiu para a decisão de Noboa de decretar o estado de emergência.
* Colaborou Herbert Villarraga, em Guayaquil
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Agência Brasil