Em reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu “reação” contra uma alegada fraude no sistema eleitoral – do contrário, o País viraria “uma grande guerrilha”.
“Se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições?”, disse o então presidente na ocasião.
Trechos da gravação do encontro, apreendida pela Polícia Federal na casa de Mauro Cid, foram divulgados pelo jornal O Globo.
Estavam na reunião Anderson Torres (ex-Justiça), general Augusto Heleno (ex-Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-Defesa), Mário Fernandes (ex-chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República) e Walter Braga Netto (ex-Casa Civil).
Todos são alvos da Operação Tempus Veritatis, deflagrada na quinta-feira 8, e investigados por tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado Democrático de Direito.
O então presidente clamou aos ministros presentes que agissem logo. “Todos aqui, como todo povo ali fora, têm algo a perder”, disse Jair Bolsonaro, referindo-se aos membros da gestão que não estavam presentes na reunião.
Segundo o então presidente, os recursos retóricos, como o discurso pelo voto impresso, já se encontravam esvaziados e outro tipo de ação deveria ser empreendida. “A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, afirma Jair Bolsonaro.
Para Jair Bolsonaro, o cenário político do País havia mudado desde 2018, quando venceu as eleições presidenciais.
“Vocês sabem o que está acontecendo. Achando que esses caras estão de brincadeira?”, disse Bolsonaro, referindo-se a atores da política nacional que estariam corroborando com uma iminente fraude no sistema eleitoral.
“Alguém acredita em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta braço? Acredita que são pessoas isentas?”, questionou o então presidente, ao que os presentes no encontro permaneceram calados.
Além de exigir ação imediata dos presentes no encontro, Bolsonaro afirmou que, a partir daquele momento, passaria a exigir dos ministros que concordassem com as suas alegações a respeito das falibilidades das urnas eletrônicas. Quem discordasse dele estaria “no lugar errado”.
“Se não tiver argumento pra me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar, o cara tá no lugar errado”, disse o presidente na reunião de julho de 2022.
Ao mesmo tempo que incentivava a equipe a divulgar desinformações sobre o processo eleitoral, o ex-presidente disse que não era o caso de o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira “botar tropa na rua, tocar fogo e metralhar”.
“Nós vamos esperar chegar 23, 24, pra se foder? Depois perguntar: por que não tomei providência lá atrás? E não é providência de força não, caralho! Não é dar tiro. Ô Paulo Sérgio (ministro da Defesa), vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar. Não é isso, porra!”, disse Bolsonaro.
Defesa de Bolsonaro afirma que enviou suposta minuta do golpe ao ex-presidente
A defesa de Jair Bolsonaro afirmou que enviou a suposta minuta do golpe para o celular do ex-presidente, para que ele “pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos”. O envio foi feito pelo advogado do ex-presidente, Paulo Amador da Cunha Bueno (leia detalhes abaixo).
Nesta quinta-feira 8, a Polícia Federal encontrou na sede do Partido Liberal (PL) um documento que defende e anuncia a decretação de um Estado de Sítio e da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no país.
Em nota, a defesa disse que teve acesso aos arquivos da investigação e que o ex-presidente, desconhecendo o conteúdo das supostas minutas, solicitou o documento.
“O ex-Presidente — desconhecendo o conteúdo de tais minutas — solicitou ao seu advogado criminalista, Dr. Paulo Amador da Cunha Bueno, que as encaminhasse em seu aplicativo de mensagens, para que pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos.”
AgoraRN