A Biblioteca Setorial Veríssimo de Melo (BSVM) do Museu Câmara Cascudo (MCC/UFRN) recebeu o acervo particular de folhetos de cordel da professora Idelette Muzart, pesquisadora francesa da cultura popular brasileira.
A doação foi intermediada por Everardo Ramos, chefe do Setor de Etnologia do MCC. A coleção contém 513 folhetos de cordel, incluindo 30 folhetos portugueses e um espanhol, além de títulos publicados nos séculos 19 e 20. O material já está disponível para consultas e pesquisas locais e estará, em breve, disponível na Consulta de Acervo de Bibliotecas no Sigaa. A Biblioteca do Museu funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 12h30 às 14h30, no pavilhão administrativo do MCC.
A maior parte das obras na coleção são folhetos brasileiros, coletados a partir dos anos 1970 em feiras livres de diversas cidades do Nordeste do Brasil. Idelette recebeu ainda uma série de doações de interessados no assunto, incluindo as publicações portuguesas entre os anos 1920 e 1960, além de um exemplar espanhol publicado no idioma catalão.
As publicações de diversos autores trazem temáticas variadas que vão desde as críticas políticas, como Getúlio Vargas, eterno no coração dos brasileiros ou A morte de Chico Mendes deixou triste a natureza, até os temas raciais, como Escrava Isaura e Palmares, a força da Raça Negra. A coleção traz ainda títulos sobre o cangaço, como ABC de Jesuíno Brilhante, além de folhetos escritos e ilustrados por José Costa Leite, cujas xilogravuras também fazem parte do acervo do MCC.
Idelette Muzart é professora aposentada de literatura na Universidade Paris X, em Nanterre, na França, e viveu no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980, quando deu aulas e realizou pesquisas relacionadas à literatura de cordel na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O interesse pelo tema começou com um presente de casamento recebido: um livro de Ariano Suassuna, o Romance d’A Pedra do Reino, que tem cada capítulo escrito como um folheto de cordel.
“Todas as referências do livro eram nordestinas. Havia inclusive uma linguagem muitas vezes difícil de compreender, mas, sobretudo, eu descobri uma coisa muito estranha: é que todos os capítulos desse livro eram chamados de folhetos. Eu gostei tanto desse livro que fiz a minha dissertação de mestrado na França sobre ele”, conta Idelette.
A coleção começa a se formar quando Idelette faz a primeira excursão à Feira de Caruaru, ainda nos anos 1970, quando de férias no Brasil. Ao longo dos anos, foram diversas visitas a feiras no Nordeste, arrecadando os folhetos de cordel que hoje fazem parte da coleção que leva seu nome na Biblioteca do Museu e que tornaram-se objeto de pesquisas durante sua trajetória acadêmica.
Para Idelette, os folhetos de cordel são testemunhos da cultura popular. “É literatura, mas também é um discurso sobre a poesia, um discurso sobre a cultura brasileira, vistas por um homem do povo, que tem uma cultura mais ampla e complexa e que fala ou canta com uma linguagem que mesmo quem é analfabeto pode entender”, explica a professora.
Por isso, como condição para a doação, a professora Idelette exigiu ampla divulgação da coleção para pesquisadores de diversas áreas, como artes, literatura, história, ciência política e antropologia. Para Everardo Ramos, professor do Departamento de Artes da UFRN e chefe do setor de Etnologia do MCC, “é uma coleção que pode ser estudada de vários pontos de vista e está disponível para pesquisadores de diversas áreas do conhecimento que podem e estão convidados a se aproximar, a conhecer e a fazer dessa coleção objeto de pesquisas e investigações”.
Para Cirlene Melo, bibliotecária do Museu, a coleção “enriquece nosso acervo de folhetos de cordel e vai garantir o acesso de muitos pesquisadores, além de demarcar nossa especialização em temas como antropologia, museologia, arqueologia, paleontologia, artes, estudos ambientais e estudos do Rio Grande do Norte”, explica ela.
O acervo da Biblioteca do Museu é constituído por livros, obras de referência, folhetos de cordel, periódicos, trabalhos acadêmicos, folhetos, publicações de eventos e os acervos particulares de Veríssimo de Melo e Deífilo Gurgel.