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Com extremas direita e esquerda enfraquecidas em 2024, tendência é o fortalecimento do centro para 2026, diz cientista político

As eleições municipais de 2024 apresentaram um comportamento inédito: uma aproximação ao centro político, contrastando com a polarização vista em 2022, quando Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva somaram mais de 90% dos votos no segundo turno da eleição presidencial. Em entrevista à ISTOÉ, o cientista político e presidente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), Antonio Lavareda, destacou que, ao contrário do que muitos analistas previam, a “era dos extremos” parece ter dado lugar a uma política de moderação. “A moderação e o discurso mais equilibrado, especialmente entre a centro-direita e a centro-esquerda, prevaleceram nas eleições deste ano”, afirmou Lavareda, apontando uma possível nova fase do cenário eleitoral brasileiro.

Renovação e modernização política

Segundo Lavareda, enquanto partidos de centro-direita e centro-esquerda se aproximam do eleitorado ao se modernizarem, o PT se encontra defasado, sem conseguir dialogar com novos setores, como empreendedores e trabalhadores da era digital. Ele observa que partidos como PSB, com jovens lideranças como João Campos e Tabata Amaral, têm atualizado suas estratégias, enquanto o PT, embora historicamente relevante, ainda se apoia em bases sociais que perderam força na sociedade.

PT e conexão com novos eleitores

Lavareda também aponta que a falta de conexão do PT com segmentos emergentes — como a nova classe média, profissionais com ensino superior e outros grupos sociais fora do Nordeste — já era visível nas eleições de 2022. “Lula venceu apenas na base da pirâmide, entre eleitores de baixa renda”, analisou. Segundo ele, essa desconexão é um problema estrutural, que poderia ser resolvido por meio de uma renovação interna, algo que o PSB tem realizado com sucesso. “O PT precisa urgentemente fazer sua atualização. Aliás, passou da hora”, diz.

Desafios do PT em relação à corrupção

Para Lavareda, outro ponto sensível para o PT é a maneira como o partido lida com o histórico de corrupção, assunto que ainda pesa na percepção do eleitorado. Mesmo com a derrubada judicial da Operação Lava Jato, ele acredita que a imagem de corrupção segue marcada no inconsciente coletivo da classe média e dos eleitores de São Paulo, um estado historicamente avesso a partidos com tal imagem. Lavareda observa que o partido evita tratar abertamente do tema, o que gera a sensação de que o problema foi simplesmente ignorado.

Kassab e estratégias para 2026

Sobre as alianças políticas, Lavareda cita Gilberto Kassab (PSD) como uma figura estratégica que poderá fortalecer ainda mais o centro. Ele vê Kassab em uma posição confortável, com alternativas que incluem lançar um candidato competitivo, apoiar um segundo nome forte ou se unir a uma coligação no segundo turno, economizando recursos para apoiar candidatos do próprio partido. Kassab, que deve decidir seus rumos mais perto de 2026, é peça-chave para uma possível aliança com Lula ou outros nomes de centro-esquerda.

A Fragmentação da direita

Um dos pontos que Lavareda defende é que a fragmentação no campo da direita, ao contrário do que muitos acreditam, não representa necessariamente uma fraqueza, mas sim uma estratégia de crescimento. Ele afirma que a divisão entre lideranças, como Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e novas figuras de extrema-direita, possibilita uma expansão da base ao unir forças no segundo turno. Para ele, essa divisão é comparável ao crescimento do movimento evangélico, que se fortaleceu com a multiplicação de denominações.

Tarcísio de Freitas e a possível candidatura à Presidência

Em relação ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Lavareda destaca que ele tem a opção de tentar a reeleição ou se arriscar numa candidatura à presidência. Caso a pressão de forças políticas e empresariais aumente para que ele concorra contra Lula, será difícil para Tarcísio recusar. Lavareda acredita que Tarcísio decidirá seu futuro mais próximo ao período eleitoral, mas enfatiza que, com a popularidade atual, ele teria boas chances de concorrer em nível nacional.

Pablo Marçal e a Corrida Presidencial de 2026

Outra possível liderança na direita é Pablo Marçal, que pode enfrentar a retirada de seus direitos políticos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se Marçal permanecer elegível, Lavareda considera provável sua candidatura à presidência em 2026, o que dividiria ainda mais o campo da direita logo na largada eleitoral.

Impacto de uma possível vitória de Donald Trump

Lavareda também analisa o possível impacto de uma vitória de Donald Trump nas eleições americanas de 2024, que, segundo ele, poderia fortalecer os movimentos de extrema-direita no Brasil e até impulsionar uma tentativa de anistia a Bolsonaro. Para Lavareda, a hipótese de uma reversão na inelegibilidade de Bolsonaro é improvável sem o cenário de um Trump vitorioso, mas uma vitória republicana nos EUA daria fôlego a essas iniciativas.

AgoraRN

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