O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou à revista Veja que nunca discutiu qualquer plano para matar autoridades. Na última terça-feira 19, a Polícia Federal revelou que militares próximos ao governo dele elaboraram um plano para matar o ministro do STF Alexandre de Moraes, o presidente Lula (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSB) em 2022.
Bolsonaro disse que nunca soube de um plano dos militares para assassinar autoridades. “Lá na Presidência havia mais ou menos 3.000 pessoas naquele prédio. Se um cara bola um negócio qualquer, o que eu tenho a ver com isso? Discutir comigo um plano para matar alguém, isso nunca aconteceu”, declarou ele a Veja, em entrevista publicada nesta sexta-feira 22.
O ex-presidente disse à revista que não endossaria qualquer plano de golpe de Estado. “Eu jamais compactuaria com qualquer plano para dar um golpe. Quando falavam comigo, era sempre para usar o estado de sítio, algo constitucional, que dependeria do aval do Congresso”.
Bolsonaro tem argumentado que não tentou dar golpe porque agiria conforme a Constituição. As chamadas minutas golpistas, apreendidas pela PF, eram rascunhos de decretos que o então presidente assinaria para evitar a posse de Lula por meio de medidas de exceção, como estado de defesa e estado de sítio. Como essas medidas estão previstas na Constituição e precisariam, em tese, de aval do Congresso, Bolsonaro alega que não tentou qualquer ruptura democrática.
General preso por plano de assassinato de Lula pede transferência para Brasília
A defesa do general da reserva Mário Fernandes, preso pela Polícia Federal na terça-feira 19 por suspeita de elaborar o plano para matar o presidente Lula (PT), pediu sua transferência para Brasília.
Fernandes está detido no Comando da Primeira Divisão do Exército, no Rio de Janeiro. Em petição ao ministro Alexandre de Moraes nesta sexta-feira 22, os advogados alegam que o general tem residência fixa em Brasília.
O general Mário Fernandes foi um dos indiciados pela PF no inquérito da trama golpista na quinta-feira 21. Além dele, a corporação indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 35 pessoas.
Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência no governo Bolsonaro. Segundo a PF, ele teria elaborado o planejamento operacional chamado de “Punhal Verde e Amarelo”, que previa uso de metralhadoras e explosivos e até o envenenamento de Lula e de Moraes.
Em Brasília, o Exército possui algumas celas em quartéis do CMP (Comando Militar do Planalto). Se a transferência for autorizada por Moraes, Fernandes deverá ser alocado em alguma unidade na capital federal, semelhante ao espaço em que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid ficou detido.
“O requerente está a cumprir prisão cautelar longe de casa, afastado de suas raízes, violando tal situação os preceitos da Lei de Execuções Penais”, diz um trecho da petição.
No dia em que foi preso, a defesa de Fernandes pediu autorização para visitas da esposa e dos dois filhos. A petição ainda não foi analisada por Moraes.
Militares queriam arrastar promotor e deputados para gabinete do golpe
A Polícia Federal descobriu que o gabinete de ‘crise’ concebido por militares bolsonaristas em 2022 seria formado por cinco generais e onze coronéis. Eles teriam a missão de ‘pacificar’ o País após um golpe de Estado que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de seu vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
O plano, intitulado ‘Punhal Verde e Amarelo’ pelos golpistas, incluía uma estratégia para “influenciar a opinião pública” e “controlar” as ações de comunicação do governo e, assim, “evitar ilações que desinformassem a população”. O plano era incluir um promotor no ‘gabinete do golpe’ e criar um braço para acompanhar decisões do Congresso Nacional e buscar apoio político ao decreto de ruptura.
Os três generais que integrariam a cúpula de tal gabinete – Mário Fernandes, Augusto Heleno e Braga Netto – foram indiciados na quinta 21 pela tentativa de golpe gestada no governo Bolsonaro.
A montagem da estrutura do “Gabinete Institucional de Gestão de Crise” ficou a cargo do general de Brigada reformado Mário Fernandes que exercia, então, o posto de secretário-executivo da Presidência na gestão Jair Bolsonaro.
O grupo teria um braço para “monitorar” decisões do Congresso Nacional. O objetivo seria o de “buscar o máximo de apoio parlamentar” para o decreto de golpe. E a intenção era a de arrastar, para seu núcleo de Assessoria Jurídica, a Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos, a Advocacia Geral da União e até um promotor do Ministério Público Militar, conforme esboçou Fernandes, preso na Operação Contragolpe, deflagrada na terça-feira, 19.
O promotor Nelson Lacava Filho, citado na minuta do gabinete de crise, externou “absoluta perplexidade e constrangimento” com a inserção de seu nome do documento. “Jamais promovi qualquer ação em detrimento do Estado Democrático de Direito e, muito menos, quanto à vida de qualquer pessoa”, frisou.
A meta do grupo seria “estabelecer diretrizes estratégicas, de segurança e administrativas para o gerenciamento da crise institucional”.
O gabinete teria, ainda, o objetivo de “proporcionar ao presidente da República (Jair Bolsonaro) maior consciência situacional das ações em curso a fim de apoiar o processo de tomada de decisão”.
AgoraRN