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Pessoas usam lanternas enquanto caminham no escuro durante apagão em Madri
28/04/2025
REUTERS/Susana Vera
© Reuters/SUSANA VERA

A energia elétrica começou a voltar a algumas partes da Península Ibérica no final desta segunda-feira, depois que um enorme apagão de energia atingiu a maior parte da Espanha e de Portugal, deixando aviões no solo, interrompendo o transporte público e forçando os hospitais a suspender as operações de rotina.

O Ministério do Interior da Espanha declarou emergência nacional, mobilizando 30.000 policiais em todo o país para manter a ordem, enquanto os governos dos dois países convocavam reuniões de emergência. Interrupções de energia em tal escala são extremamente raras na Europa.

A causa não ficou clara, com Portugal sugerindo que o problema se originou na Espanha e a Espanha apontando o dedo para um rompimento de sua conexão com a França.

O primeiro-ministro de Portugal, Luis Montenegro, disse que não havia “nenhuma indicação” de que um ataque cibernético tivesse causado o apagão, que começou por volta das 7h33 (horário de Brasília).

No entanto, circularam rumores de uma possível sabotagem, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse ter conversado com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.

Sánchez disse que o país havia sofrido uma perda de 15 GW de geração de eletricidade em cinco segundos, o equivalente a 60% da demanda nacional. Os técnicos estavam trabalhando para descobrir o motivo da queda repentina, disse ele.

“Isso é algo que nunca aconteceu antes”, disse.

João Conceição, membro do conselho da operadora de rede portuguesa REN, disse aos repórteres que a empresa não descartou a possibilidade de uma “oscilação muito grande na tensão elétrica, primeiro no sistema espanhol, que depois se espalhou para o sistema português”.

“Pode haver mil e uma causas, é prematuro avaliar a causa”, disse ele, acrescentando que a REN estava em contato com a Espanha.

A REE, operadora da rede elétrica da Espanha, culpou uma falha na conexão com a França por ter desencadeado o efeito em cadeia.

“A extensão da perda de energia foi além do que os sistemas europeus foram projetados para lidar e causou uma desconexão das redes espanhola e francesa, o que, por sua vez, levou ao colapso do sistema elétrico espanhol”, disse Eduardo Prieto.

Partes da França também sofreram uma breve interrupção. A RTE, operadora da rede elétrica francesa, disse que havia tomado medidas para complementar a energia em algumas partes do norte da Espanha após a interrupção.

Na Espanha, a energia começou a retornar às áreas do País Basco e de Barcelona no início da tarde, e a partes da capital Madri na noite desta segunda-feira. Cerca de 61% da eletricidade havia sido restaurada até o final desta segunda-feira, de acordo com a operadora da rede nacional.

A Enagas disse que havia ativado sistemas de emergência para atender à demanda durante o apagão, enquanto Prieto disse que o retorno dos sistemas ao normal levaria “várias horas”.

Em um vídeo postado no X, o prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, disse que a iluminação pública da cidade não havia sido totalmente restaurada e recomendou que as pessoas ficassem em casa, acrescentando: “É essencial que os serviços de emergência possam circular”.

A energia também estava retornando gradualmente a vários municípios em Portugal no final desta segunda-feira, incluindo o centro da cidade de Lisboa. A operadora de rede REN disse que 85 das 89 subestações de energia estavam novamente online.

O apagão teve efeitos abrangentes em toda a península.

Hospitais de Madri e da Catalunha, na Espanha, suspenderam todo o trabalho médico de rotina, mas ainda estavam atendendo pacientes críticos, usando geradores de reserva.

Várias refinarias de petróleo espanholas foram fechadas e algumas redes de varejo fecharam em ambos os países, incluindo a rede de supermercados Lidl e a gigante de móveis IKEA.

A polícia portuguesa informou que os semáforos foram afetados em todo o país e o metrô foi fechado em Lisboa e Porto, enquanto os trens foram suspensos em ambos os países.

“Simplesmente não sei a quem recorrer. Minha filha em Barcelona está dando à luz. Vamos perder a conexão para chegar lá”, disse Angeles Alvarez, uma viajante que ficou do lado de fora da estação ferroviária de Atocha, em Madri.

Sánchez disse na noite desta segunda que cerca de 35.000 passageiros foram resgatados dos trens, enquanto 11 trens ainda permaneciam presos em áreas remotas.

Imagens de um supermercado de Madri mostravam longas filas nos caixas e prateleiras vazias enquanto as pessoas corriam para estocar produtos básicos.

O Banco da Espanha disse que os serviços bancários eletrônicos estavam funcionando “adequadamente” nos sistemas de backup, embora os moradores também tenham relatado que as telas dos caixas eletrônicos ficaram em branco.

Houve engarrafamentos no centro da cidade de Madri quando os semáforos pararam de funcionar, com pessoas usando coletes refletivos nos cruzamentos para direcionar o tráfego.

Muitos espanhóis decidiram tirar meio dia de folga, reunindo-se em ruas e praças para encontros improvisados ou preparando refeições à luz de velas em casa.

O tráfego da internet caiu 90% em Portugal e 80% na Espanha em comparação com os níveis da semana anterior, de acordo com o Cloudflare Radar, que monitora o tráfego global da internet.

Interrupções de serviço tão generalizadas são incomuns na Europa. Em 2003, um problema em uma linha de energia hidrelétrica entre a Itália e a Suíça causou uma grande interrupção em toda a península italiana por cerca de 12 horas.

Em 2006, uma rede elétrica sobrecarregada na Alemanha causou cortes de eletricidade em partes da Europa e até no Marrocos.

Cerca de 43% da energia da Espanha vem da energia eólica e solar, com a nuclear respondendo por mais 20% e os combustíveis fósseis por 23%, de acordo com o think tank de energia Ember.

* Reportagem de Emma Pinedo, Jesus Aguado, Andrei Khalip, Catarina Demony, Aislinn Laing, Dominique Patton, Inti Landauro e David Latonaton

* É proibida a reprodução deste conteúdo

Agência Brasil

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