Cerca de 80 iranianos registraram a candidatura para as eleições presidenciais que serão realizadas em 28 de junho após a morte do presidente Ebrahim Raisi, em um acidente aéreo. Muitos deles poderão ter a candidatura anulada até o início da campanha.
Personalidades de corrente ultraconservadora, moderados, diversos religiosos de segunda linha e quatro mulheres entraram na corrida, indicaram os veículos de comunicação oficiais nessa segunda-feira, último dia para a apresentação de candidatos.
Mahmoud Ahmadinejad é o nome mais conhecido e, aos 67 anos, procura regressar ao cargo de presidente, que ocupou entre 2005 e 2013. Os seus dois mandatos consecutivos estão associados a declarações implacáveis sobre Israel e fortes tensões com o ocidente, sobretudo em torno do programa nuclear iraniano.
Dois outros veteranos da República islâmica estão na competição: Ali Larijani, ex-presidente do Parlamento e considerado moderado, e Said Jalili, antigo negociador ultraconservador do dossiê nuclear.
O presidente do município de Teerã, Alireza Zakani, o ex-governador do Banco Central, Abdolnasser Hemmati, e Eshaq Jahangiri, ex-primeiro-vice-presidente de Hassan Rouhani (na presidência entre 2013 e 2021) também apresentaram candidatura.
Nessa segunda-feira, um dos últimos a oficializar sua participação foi o presidente conservador do Parlamento, Mohammad-Baqer Qalibaf. Ele disse estar em condições de resolver “os problemas” que o Irã enfrenta, citando “a pobreza”, “as desigualdades”, o acesso à “internet” e as “sanções” impostas pelos Estados Unidos.
Mohammad Mokhber, presidente interino desde a morte de Raisi, não se declarou candidato.
A aceitação das candidaturas depende de autorização final proveniente do Conselho dos Guardas da Constituição, um órgão não eleito dominado pelos conservadores.
Os seus 12 membros – seis religiosos nomeados pelo guia supremo e seis juristas – vão decidir até 11 de junho quem está autorizado a entrar na campanha, que começará no dia seguinte.
Nas eleições de 2021, o conselho autorizou apenas sete das 592 candidaturas, eliminando numerosas personalidades reformistas e moderadas e permitindo folgada vitória de Ebrahim Raisi, candidato do campo conservador e ultraconservador.
Diante da situação, muitos eleitores optaram por não comparecer às sessões de votação, sendo notificada a mais baixa taxa de participação em eleições presidenciais (49%) desde a revolução islâmica de 1979.
Entre os candidatos que agora se apresentam, Ahmadinejad foi desclassificado nas eleições de 2017 e 2021, e Larijani em 2021.
Nenhuma mulher estava autorizada a candidatara-se desde o início da República islâmica, mas em 2021 o Conselho dos Guardas reverteu a decisão ao considerar não existir qualquer obstáculo jurídico.
Este ano, a antiga deputada Zohreh Elahian espera obter autorização após ter apresentado candidatura.
Física, de 56 anos, ela defende o uso obrigatório do véu islâmico para as mulheres e solidariza-se com a firmeza do governo face às manifestações durante o amplo movimento de protesto que abalou o país no final de 2022, após a morte de Masha Amini.
Mais três ex-deputadas estão na corrida, incluindo a reformadora Hamideh Zarabadi, que se apresentou ontem com um véu colorido.
Ao contrário da maioria dos países, o presidente não é o chefe de Estado, função antes atribuída ao guia supremo, atualmente o ayatollah Ali Khamenei, 85 anos e no cargo há 35.
O presidente desempenha, no entanto, função importante na direção do governo e de sua política, devido à inexistência do posto de primeiro-ministro.
Cinco dos oito presidentes desde 1979 eram provenientes dos círculos religiosos.
Para ser eleito à Presidência é necessário ter idade entre 40 e 75 anos, ter pelo menos um mestrado universitário e ser leal à República Islâmica.
Em discurso nessa segunda-feira, o ayatollah Khamenei pediu ampla participação nas eleições presidenciais, por se tratar de “assunto importante”.
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Agência Brasil