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Brasília (DF), 29/10/2024 - Assessor-Chefe da Assessoria Especial do Presidente da República, Celso Amorim durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
© Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

O Brasil deve insistir em ser um interlocutor junto à Venezuela, apesar dos atritos diplomáticos ocorridos após a eleição presidencial do dia 28 de julho, que resultou na reeleição ao presidente Nicolás Maduro, segundo argumentou, nesta terça-feira (29), o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República.

“Se o Brasil quiser ter uma influência positiva [na Venezuela], temos que manter uma interlocução. Estamos mantendo uma interlocução, mas diminuiu o nível dessa interlocução desde a eleição”, afirmou Amorim à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

O assessor da presidência disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conversa pessoalmente com Maduro desde antes da eleição, “por não ter recebido sinais de abertura para um diálogo franco”.

Amorim acrescentou que, atualmente, há um “mal estar” entre os governos brasileiro e venezuelano em razão, entre outras coisas, da não apresentação dos dados eleitorais por mesa de votação prometidos pelo governo Maduro. O embaixador acrescentou que espera que esse mal-estar seja resolvido.  

“Se queremos ter alguma influência no processo de democratização da Venezuela, temos que ter alguma interlocução. Se não, vem outros. Você tem de um lado os Estados Unidos e, do outro lado, tem países distantes. Não queremos que a Venezuela seja palco de uma Guerra Fria ou de um conflito na Amazônia”, disse.

O embaixador afirmou que se ocupa da Venezuela há 30 anos, desde quando era ministro das Relações Exteriores do governo de Itamar Franco. Ele disse que ouviu, naquela época, comentários golpistas de empresários venezuelanos contra o então presidente Rafael Caldeira.

“Na Venezuela, a construção da democracia depende ainda de um consenso básico sobre os princípios da convivência política. Não se limita a uma questão puramente política, mas envolve toda a sociedade que é extremamente dividida e desigual. Por isso, trata-se de um processo longo. Cada eleição é importante por si mesma, mas faz parte de um conjunto mais amplo”, afirmou.

De acordo com Amorim, é preciso um grande esforço de diálogo e negociação uma vez que o governo brasileiro deseja que o vizinho seja estável. “Nesse sentido, assinalo que nos próximos ano estão previstas eleições regionais e parlamentares, é um risco, mas também uma oportunidade. Se um pais quer ter importância positiva, não pode se desqualificar como interlocutor”, explicou.

O Brasil tem se afastado diplomaticamente da Venezuela depois da eleição de 28 de julho. A eleição foi contestada pela oposição, por organismos internacionais e países, entre eles, o Brasil, pelo fato de os dados eleitorais por mesa de votação não terem sido apresentados.

Na última semana, a Venezuela acusou o Brasil de vetar a participação dela no Brics, que deve convidar 13 novos países como membros associados. A Venezuela, apesar de querer entrar no bloco, ficou de fora da nova lista. Segundo Amorim, a reação da Venezuela em relação ao Brics foi “desproporcional”. 

Agência Brasil

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