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Deputada Natália Bonavides (PT-RN) em entrevista a podcast do Brasil de Fato - Foto: Reprodução

A deputada federal Natália Bonavides avalia que o distanciamento da esquerda das “lutas diárias do trabalhador” tem enfraquecido o movimento progressista no Brasil. Em entrevista ao podcast do site Brasil de Fato, ela frisou a necessidade de maior aproximação com as demandas do povo trabalhador e que esse trabalho de base é essencial para consolidar as pautas históricas da esquerda. Natália foi candidata a prefeita de Natal pelo PT nas eleições deste ano e foi derrotada no 2º turno pelo prefeito eleito, Paulinho Freire (União Brasil).

“A esquerda perde força à medida que se ausenta das lutas cotidianas do povo trabalhador. Esse distanciamento de um trabalho mais próximo e rotineiro enfraquece nossas causas. As pautas do povo seguem tendo um apelo muito forte, mas, muitas vezes, falta estarmos mais próximos para debater essas questões diretamente com a população”, falou.

Ela citou a jornada de trabalho, transporte público e creches como pautas que conectam classe, raça e gênero. “O tema das creches é essencial para as mulheres, especialmente as trabalhadoras que não conseguem sequer trabalhar por falta de políticas de cuidado. No transporte público, sabemos que é a população negra quem mais o utiliza, enfrentando jornadas exaustivas e perdendo tempo de vida que poderia ser usado para viver, não apenas sobreviver”.

Para Natália, o PT deve fortalecer as bandeiras populares, sem se afastar de sua essência. “O caminho para o PT não é ir mais ao centro, mas reafirmar as pautas do povo trabalhador. E isso não deve se limitar ao discurso ou à atuação parlamentar. Precisamos de um trabalho mais próximo, como um dia já fizemos, para trazer mais pessoas para defender essas causas”, defendeu.

Natália: Naturalização de crimes eleitorais ameaça democracia

Na entrevista, Natália Bonavides afirmou ainda que a naturalização de práticas ilícitas nas eleições compromete a democracia e expõe falhas institucionais. Segundo ela, crimes como compra de votos, disseminação de fake news e abuso do poder econômico, amplamente praticados nas eleições de 2024, ainda encontram respostas insuficientes das autoridades competentes.

“As pessoas têm naturalizado essas práticas criminosas e, assim, tudo fica por isso mesmo. Estamos falando de crimes cometidos. Não é à toa que vemos a compra de votos ser feita à luz do dia e o assédio eleitoral contra terceirizados das prefeituras. Mesmo quando denunciamos, o funcionário exonerado foi rapidamente renomeado. Isso reflete a falta de seriedade no enfrentamento desses abusos. Isso é um crime difícil de provar, mas não deveria ser ignorado pelas autoridades competentes”, lamentou, a um podcast do site Brasil de Fato.

Para Natália, é preciso usar instrumentos como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para identificar saques atípicos e rastrear o financiamento ilegal de campanhas eleitorais. “Não vemos uma atuação institucional que esteja à altura. Precisamos de uma regulamentação efetiva para coibir essas práticas, especialmente no caso das redes sociais e do abuso do poder econômico”, disse.

Ela destacou o impacto das redes sociais na disseminação de desinformação e apontou falhas na regulamentação das plataformas. “As fake news não são novas, mas as tecnologias atuais levaram essa prática a outro patamar. Os algoritmos privilegiam discursos de ódio e extremismo, fortalecendo a direita. É um problema global, mas as consequências são graves, como vimos no episódio do homem que se explodiu em frente ao STF”, alertou.

A deputada ressaltou os desafios enfrentados para aprovar o projeto de regulamentação das redes sociais no Congresso. “Quando chegamos perto de pautar o projeto, houve uma campanha massiva contra. Até a página inicial do Google foi usada para espalhar desinformação. É uma luta muito desigual”.

Natália também questionou a ideia de flexibilizar a jornada de trabalho por meio de acordos coletivos. “Supor que trabalhadores e patrões estão em paridade de condições é um equívoco. Quem está na ponta sabe que a imposição de jornadas de 12 horas é desumana e precariza ainda mais as condições de trabalho”, afirmou.

“Anistia a golpistas põe democracia em risco”, afirma parlamentar

A deputada federal classificou qualquer tentativa de anistiar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro uma ameaça grave à democracia brasileira. Segundo ela, medidas de justiça e transição são importantes para evitar retrocessos e responsabilizar os que atentaram contra o Estado democrático de direito.

“No Brasil, já tivemos falhas graves no passado, como a anistia a torturadores durante a transição da ditadura para a democracia. Isso deixou marcas profundas, pois não houve julgamento nem punição para crimes de Estado. Hoje, enfrentamos o risco de repetir esse erro ao discutirmos a anistia dos golpistas de 2023, não apenas os que estavam no dia, mas principalmente dos que orquestraram e financiaram esse ataque”, afirmou.

Natália criticou o que considera uma tentativa da direita e da extrema direita de enfraquecer instituições democráticas. “É legítimo discutir transparência e democratização do Judiciário, mas o que vemos é outra coisa. Esse debate é motivado pela insatisfação com decisões do STF que enfrentaram máquinas de fake news e os gabinetes do ódio. Na prática, essas discussões têm como objetivo proteger práticas políticas criminosas de setores da extrema direita”.

E alertou que a extrema direita permanece ativa e articulada, “mesmo após a inelegibilidade do ex-presidente Bolsonaro, que segue dizendo que será candidato em 2026, mesmo inelegível. Esse espírito golpista não é apenas dele, mas de um movimento maior. Precisamos estar vigilantes, pois qualquer descuido pode permitir que essas forças autoritárias avancem”, disse.

E ressaltou a necessidade de reconectar a população com a política. “Quando as pessoas se afastam da política, quem se beneficia são os setores que querem manter o status quo. É fundamental reforçar que tudo na nossa vida está relacionado à política, desde o preço do pão até a qualidade das escolas e o acesso à saúde”.

AgoraRN

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