Ao longo dos últimos anos, a inclusão produtiva digital tem se tornado um tema importante na vida da sociedade brasileira, que enfrenta desafios para inserir a população mais vulnerável no mundo do trabalho. Com a pandemia em andamento, a questão passou a ser ainda mais urgente. Longe de ser apenas uma situação passageira, a pandemia trouxe mudanças que caracterizam um novo contexto para pensar a inclusão e a transformação digital. Os desafios já existentes se transformaram em mais agudos. As tendências se aceleraram.
Um contexto que convida a um reexame dos caminhos adiante.
A resolução desses problemas requer uma variedade de medidas complementares. De acordo com a OCDE, 2020 – A Caminho da Era Digital no Brasil – os investimentos para aumentar a transformação digital têm um papel fundamental para prover desenvolvimento social, ambiental e econômico. As tecnologias digitais são facilitadoras da inovação e da produtividade em empresas. As redes de banda larga de alta velocidade fornecem aos cidadãos e às empresas acesso aos serviços públicos e mercados internacionais, além de poder ajudar a reduzir desigualdades.
Recursos para a educação on-line oferecem novas ferramentas de ensino e fornecem novas oportunidades de formação, ademais de contribuir para a melhoria das qualificações dos trabalhadores e pessoas em geral.
Ao mesmo tempo, a transformação digital dos negócios pode acentuar desigualdades existentes, principalmente entre pessoas muito e pouco qualificadas, empresas grandes e pequenas, bem como entre regiões urbanas e rurais.
Tais tipos de investimentos são essenciais para garantir que todos os benefícios da transformação digital, além do econômico, sejam compartilhados com a sociedade.
Incrustada no semiárido do Nordeste do Brasil, acreditando que o futuro se faz investindo no presente, a Brisanet, há 22 anos, desafia as abordagens de desenvolvimento historicamente utilizadas no país, que não foram capazes de lidar com os desafios estruturais existentes e fez a opção por um estilo de desenvolvimento que dá atenção às enormes diferenças de produtividade do trabalho no meio urbano e rural, e que assume como prioridades a promoção do desenvolvimento sustentável e a inclusão produtiva digital da população vulnerável que vive no seu entorno, ou seja a zona rural da cidade de Pereiro no estado do Ceará.
A empresa surge do comprometimento do empresário José Roberto Nogueira, nativo também zona rural da mesma Pereiro, de prover internet via rádio de qualidade e com preço acessível onde nenhum outro provedor queria levar: no interior nordestino.
Mais uma vez investindo no presente para transformar o futuro, a Brisanet inovou ainda mais e enxergou a fibra óptica como uma forma de proporcionar mais conectividade. Com a nova tecnologia, a empresa também ganhou espaço para trabalhar com o sinal de telefonia fixa e TV a cabo no interior. Em 2012, foi iniciada a implantação do novo recurso em Pau dos Ferros – RN, a pouco mais de 40 km da sede, se tornando, então, o primeiro município a ser totalmente fibrado no Brasil.
A partir da operação bem sucedida, a Brisanet expandiu seus serviços com essa tecnologia de ponta e, hoje, atende mais de 200 cidades interioranas do Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, totalizando mais de 640 mil assinantes, levando conexão de alta qualidade, com velocidade três vezes maior do que a média brasileira e próxima a dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.
A empresa emprega e qualifica grande parte dos egressos das escolas públicas da região, além de prover meios para acesso a educação superior. É importante destacar que 95% dos funcionários da Brisanet tiveram ali o seu primeiro emprego.
A atuação da Brisanet e suas tecnologias digitais têm o potencial de aumentar a produtividade de outras empresas em todos os setores da economia da caatinga.
O uso da tecnologia Brisanet nas zonas rurais, por certo, contribuirá para a relação dos pequenos agricultores e o problema da seca. O acesso a tecnologia e o uso de sensoriamento de dados é um bom exemplo do desafio de iniciativas de inovação com o intuito de fomentar o desenvolvimento de soluções inovadoras por meio de startups para problemas do pequeno agro voltados para o semiárido brasileiro.
Não se tem dúvidas de que a Brisanet traduz um belo caso de construção da era digital no semiárido do Nordeste, pois integra tecnologia digital que promove: acessibilidade, usabilidade, inovação, geração de emprego e renda, confiança e abertura de novos mercados.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S. A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Ceará.
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