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Alvo da Operação Anjos da Guarda, o grupo que pretendia resgatar a cúpula do Primeiro Comando da Capital de presídios do Distrito Federal e Rondônia – entre eles o chefe da facção, Marcola – tinha três planos de fuga, que foram comunicados aos detentos por meio de mensagens codificadas transportadas por advogados. De acordo com a Polícia Federal, o primeiro plano tinha o nome STF e tratava de invasão à penitenciária federal.

O segundo, batizado STJ, envolvia o sequestro de autoridades do sistema penitenciário. Havia ainda o plano ‘suicida’ que envolvia uma ‘provável’ rebelião, iniciada pelo próprio Marcola, com a tomada de um servidor público como refém.

As informações constam de decisão proferida pelo juiz Francisco Codevila, da 15ª Vara Federal de Brasília, responsável por expedir os 11 mandados de prisão preventiva cumpridos pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (10).

Como mostrou o Estadão, os investigados pretendiam soltar não só Marcola, mas também outros líderes da facção – Edmar dos Santos, conhecido como Quirino, Cláudio Barbará da Silva, o ‘Barbará, Reinaldo Teixeira dos Santos, Valdeci Alves dos Santos, o ‘Colorido’, este natural de Jardim de Piranhas (RN) e Esdras Augusto do Nascimento Júnior.

Além disso, os agentes da Polícia Federal vasculharam 13 endereços no Distrito Federal (Brasília), em Mato Grosso do Sul (Campo Grande e Três Lagoas) e em São Paulo (São Paulo, Santos e Presidente Prudente). Entre os alvos de buscas está a mulher de Marcola, Cynthia, que é apontada pelos investigadores como a pessoa que repassa informações de forma codificada a respeito da situação das pessoas que estão envolvidas no plano de resgate.

As buscas visaram apreender provas que poderiam estar nas residências dos alvos identificados como responsáveis pela transmissão de mensagens cifradas de dentro para fora dos presídios federais. Codevilla considerou que a medida era ‘essencial’ para identificação dos demais envolvidos e ‘servirá como forma de frear a atividade delitiva’.

A PF conseguiu identificar os planos de resgate da cúpula do PCC depois de colocar as mãos em um documento de posse de uma advogada, alvo de mandado de prisão preventiva. Antes de ser capturada pela corporação, ela foi alvo de ordem de quebra de sigilo telemático.

Segundo os investigadores, o arquivo obtido contém detalhamentos para a execução do plano para libertar os presos, a indicação de que as siglas ‘STF’ e ‘STJ’ tratam de códigos. O documento ainda menciona possível de sequestro de integrantes do Sistema Penitenciário Federal e seus familiares, com ordens, inclusive, para a prática de homicídios.

O relatório da PF ainda analisou mensagens de voz enviadas e recebidas pela advogada. Segundo a corporação, os áudios indicam que ela cumpria as determinações de Devanir de Lima Moreira, o Deva, um dos principais líderes do PCC que não está preso e apontado como um dos responsáveis por elaborar o plano de fuga dos custodiados. Ele está foragido da Justiça desde 2017, havendo informações de que está atualmente na Bolívia, diz a PF

Ainda de acordo com os investigadores, a análise do material telemático da investigada ‘comprovou a existência do plano e a pratica de atos voltados para a execução completa do crime, desde o recebimento de celulares para o estabelecimento de um “circuito fechado” com os advogados que atuam como “pombo correio” e os integrantes do PCC que estão vinculados ao resgate, até a seleção da ordem dos presos que deveriam ser atendidos por ela quando recebeu as mensagens’.

Ao requerer a abertura da Anjos da Guarda, a PF argumentou que o plano de resgate estava perto de ser efetivado. A indicação se deu com base na captura de uma conversa de um dos presos, o ‘Colorido’, que dizia que o plano estava ‘95% pronto, faltando apenas a concretização da ação criminosa’.

Os investigadores alertaram à Justiça que, ‘por diversas vezes’, a inteligência da Polícia Federal e do DEPEN identificou drones sobrevoando a Penitenciária Federal em Brasília, principalmente quando Marcola estava lá recolhido.

O líder do PCC foi transferido em março para Rondônia.

Segundo Codevila, a conclusão de que o plano de resgate está ‘na iminência de ser colocado em prática’ é reforçada pelo fato de que, em junho, agentes identificaram que um advogado que atendeu Marcola em Porto Velho deixou o presídio com uma anotação que dizia: “STF (dar uma atenção) – Pedir Dr Alexandre vir o mais breve possível”.

A PF ainda chegou a reforçar o pedido para abrir a ‘Anjos da Guarda’ após captar diálogos recentes, um deles em 22 de julho, no parlatório da Penitenciária Federal em Porto Velho, onde Marcola está custodiado atualmente. A interceptação acendeu mais um alerta mais os investigadores, que consideraram que o presídio poderia ser alvo do plano de resgate dada a localização próxima de região de fronteira.

A apuração apontou ainda que advogadas investigadas registraram o entorno do presídio por meio de gravações de vídeos, áudios e fotos. Segundo Codevilla, tal cenário ‘demonstra que estão sendo feitos levantamentos a respeito da estrutura e da dinâmica de funcionamento da penitenciária, a fim de possibilitar o estudo das melhores táticas para a execução do resgate dos detentos líderes do PCC que ali estão custodiados’.

O juiz ressaltou que a representação pela deflagração da fase ostensiva da investigação foi abastecida com diversos relatórios de diligências, entre elas monitoramentos das conversas das interceptações telefônicas e dados telemáticos, judicialmente autorizados. Segundo Codevilla, a PF identificou as condutas de cada um dos investigados ‘apresentando os indícios de que, de algum modo, integram a organização criminosa e contribuem para o plano de resgate dos principais membros do PCC que se encontram custodiados no sistema penitenciário federal’.

*AE

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