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Brasília - Senador José Serra, com a imprensa, durante reunião da Executiva Nacional do PSDB (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Brasília - Senador José Serra, com a imprensa, durante reunião da Executiva Nacional do PSDB (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Após décadas de participação na política nacional, o ex-senador José Serra mantém uma agenda mais reclusa em São Paulo por conta da saúde. Ainda assim, ele relembrou, em entrevista por telefone à TV Brasil, os 50 anos do Golpe no Chile, completados em 11 de setembro. Exilado no Chile na década de 1960, Serra chegou a ser preso pelo regime ditatorial de Augusto Pinochet após 1973.

Presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1964, ano do golpe militar no Brasil, Serra precisou deixar o curso de Engenharia na Universidade de São Paulo (USP). Em 1965 foi para o exílio, passou por Bolívia e França e, depois de uma tentativa de retornar ao Brasil, foi para o Chile. Lá terminou os estudos, se pós-graduou e atuou como pesquisador e professor.

Logo após o golpe, em 11 de setembro de 1973, que depôs e levou à morte do então presidente chileno Salvador Allende, José Serra foi preso. “Para nossa surpresa, até certo ponto”, pois tinha alguma imunidade por ser estrangeiro e trabalhar dentro de um programa internacional. “Mas isso não foi levado em conta. Como eu sou filho de italiano, tinha a cidadania e já havia conversado com a embaixada.

Mesmo com a intervenção da Embaixada da Itália no Chile, Serra foi preso e levado ao Estádio Nacional, um dos principais centros de tortura e execução do regime. Lá não viu muita coisa, pois ficou isolado, mas considera que a repressão chilena foi a pior entre as ditaduras latino-americanas. Depois de uma negociação dura entre as autoridades italianas e os militares, ele passou meses morando na embaixada, de onde conseguiu autorização para ir para os Estados Unidos.

O que aconteceu no Chile surpreendeu a todos, pela truculência. Não que a gente não imaginasse que aquilo fosse possível, mas não de forma tão ampla, atingindo tanta gente”, contou o político. Na época, lembra, ele e outros brasileiros que estavam exilados não tinham quase nenhuma participação no governo de Allende.

Ele conta que, em geral, levavam suas vidas e assistiram ao processo que levou às reformas populares mais amplas da época, mas que também levou a uma explosão da inflação e a divergências entre governo e associações populares, de um lado, e militares e grupos de empresários, do outro.

A esquerda chilena, a famosa esquerda chilena, não era uma força organizada para a resistência militar. Acreditavam no caminho democrático, eram uma força pacífica. A violência do processo acabou surpreendendo tanto aqueles que eram adversários do regime quanto aqueles que eram inteiramente alheios à questão política propriamente dita”, relembra.

Serra critica a forma como as esquerdas idealizaram o que viria a ser um governo Allende sem o golpe liderado por Augusto Pinochet. “A piora na situação econômica, a superinflação, o desempenho do governo foi decisivo na mobilização das forças pró-golpe. Não há como saber o que seria do país sem a intervenção. Há muita fantasia nesse sentido, do que poderia ter sido o Chile se não houvesse o golpe. O que houve, após o golpe, foi muita barbaridade.

A profundidade da repressão refletiu também em como o país lidou com esses crimes depois do fim do regime. Serra entende que, após ficarem pasmos com os excessos da extrema-direita, o que ficou foram lições. Ele acredita que ficou o aprendizado, no Chile e em certa medida em todo o continente, após as ditaduras, sobre “o valor da democracia, o valor de cuidar das regras da democracia e a importância disso, do respeito aos adversários”.

Agência Brasil

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