Pacientes do Rio Grande do Norte que são portadores de doenças inflamatórias intestinais denunciam a falta de medicamentos essenciais para o tratamento. Segundo eles, os remédios estão em falta há pelo menos cinco meses na Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat), da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).
Conforme a associação que representa os pacientes no estado, estão em falta as mesalazinas, sulfassalazinas e outros. Esses fármacos são usados no tratamento de doenças inflamatórias intestinais, como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn. Ao AGORA RN, a presidente da associação no RN Carla Monteiro confirmou o problema. “Pelos relatos dos pacientes, desde maio a mesalazina está em falta”.
A paciente Irlana Wanderley apontou que o estoque está zerado. “Eu e várias pessoas do RN, portadores de doença inflamatória intestinal, precisamos desses medicamentos de uso contínuo. Tem pessoas que não podem comprar. E, com a interrupção do tratamento, pode agravar o quadro. Desde maio que está faltando na Unicat a medicação mesalazina, um verdadeiro descaso”, contou ela.
Edinaldo Júnior, que é portador de retocolite ulcerativa, disse que também está há meses sem receber o medicamento através do Sistema Único de Saúde (SUS). “Eu deveria pegar três, e esse mês não consegui nenhum. Preciso de dois tipos de mesalazina, um deles, o supositório, o pessoal [da Unicat] não sabia nem da existência. O próprio site da Unicat mostra que ele poderia ser recebido, mas nunca tem”, observou.
Já o outro tipo, em comprimido, Edinaldo está sem receber há meses. “É de uso contínuo e pode ter agravamento do meu quadro de saúde. Posso, eventualmente, ser internado caso não tome. Eu tomo em grandes quantidades, então acabo gastando muito dinheiro”, relatou.
Questionada pela reportagem, a Sesap se mostrou ciente da situação. “A Sesap está trabalhando para finalizar a licitação para compra de parte dos medicamentos, sendo que um deles, a mesalazina, está apenas aguardando entrega do fornecedor, que deve acontecer dentro dos próximos dias”, diz a nota da pasta.
Médica prescreve medicamentos mais caros ao SUS para não interromper tratamentos de doenças intestinais
Médica gastroenterologista e preceptora do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), Lívia Medeiros contou que, por causa da falta de mesalazina, vem prescrevendo medicamentos mais caros ao poder público com o objetivo de evitar a interrupção dos tratamentos dos pacientes.
“Há na Unicat remédios imunobiológicos, que são de alto custo, no mínimo custam R$ 1 mil. Às vezes, a gente tem optado por substituir a mesalazina, que está em falta, pelos imunobiológicos para não deixar os pacientes sem tratamento. Isso acaba sendo mais oneroso ao poder público porque esses medicamentos são mais caros”, frisou.
Isso tem acontecido com certa frequência na rede pública de saúde. “Tem uma paciente minha que está em crise há meses, com anemia, e eu tive que entrar com imunobiológicos”, pontuou. “São muitos pacientes com doenças inflamatórias intestinais no estado, só no meu ambulatório no HUOL são 200 ou 250 pessoas”.
A retocolite ulcerativa e a doença de Crohn são doenças crônicas que causam diarreia, sangramento nas fezes, perda de peso, dores nas articulações, úlceras na pele, entre outros sintomas. “A medicação não cura, mas serve para controlar. São medicamentos de uso diário que impedem crises e deixam os pacientes em remissão, com uma melhor qualidade de vida”, explicou a médica.
Os medicamentos que estão em falta na Unicat, como mesalazina e sulfassalazina, não são de alto custo. De acordo com Carla Monteiro, uma caixa custa em média R$ 60. “Não é caro, mas o paciente faz tratamento contínuo, então são muitas caixas, no fim acaba saindo caro. E nós temos direito ao acesso ao tratamento. Outra coisa que chama a atenção é que vários estados estão recebendo os remédios, como a Paraíba, mas o RN não”.
“No início de setembro, nós recebemos uma doação de mesalazina que veio de Belo Horizonte, caixas de 400, 500 e 800 miligramas. Consegui atender 12 pessoas com isso, para um mês de tratamento. Nós vamos atrás porque precisamos, mas isso é obrigação do Estado. Alguns pacientes já me contaram que estavam diminuindo a dosagem por conta própria para não ficar sem”, disse Carla Monteiro.
AgoraRN