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FOTO 1 CAPA empreendedorismo
Ana Alcântara (à direita) hoje empreende com venda de bolos e Elisângela Régia (à esquerda) optou por trocar o mundo dos negócios após receber uma oportunidade para trabalhar no Sesc-RN, onde executa conhecimentos apreendidos na instituição - Foto: José Aldenir/Agora RN

Empoderar: ato de dar ou conceder poder para si próprio ou para outros. Este é um dos termos bastante utilizados atualmente, principalmente no que se refere a colocar mulheres em papel de destaque. O cenário do mundo atual tem mostrado avanços neste sentido, porém ainda é necessário buscar ações visando fomentar a visibilidade da mulher. Isso porque o machismo ainda é muito presente na sociedade. 

Pensando nisso, a Fecomércio Rio Grande do Norte decidiu propor ideias para ajudar na expansão do empreendedorismo feminino, uma delas é a “Pesquisa de perfil e desafios das empreendedoras potiguares”. O objetivo do estudo é, principalmente, traçar um perfil da mulher empreendedora no estado, suas necessidades, desafios e perspectivas. A instituição aponta que a partir dos dados será possível mapear especificidades deste tipo de público, planejar e executar ações. Apresentada em julho, a pesquisa também foi mostrada em um encontro de mulheres promovido pela Câmara da Mulher Empreendedora, grupo que compõe a Fecomércio Com Elas. A partir disso, foi também apresentado um cronograma de atividades para o 2º semestre. 

Confira alguns dos números apresentados:

FOTO 2 INFOGRAFICO

A importância de estudar quem é a mulher que empreende e gera riqueza se torna primordial visto que o percentual deste público em relação ao número de negócios em todo o país chegou a 34% no ano passado. Ou seja, existem mais de 10 milhões de empreendedoras no Brasil. Os dados são de uma análise do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) baseada em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística coletados no último Censo de 2022.

No Rio Grande do Norte, o último Censo mostrou que o número de mulheres se sobressai ao de homens: são 1.193.354 contra 1.101.748. Mesmo assim, chama atenção o fato de 35% dos negócios no estado potiguar serem comandados por elas. Neste cenário, é importante a implementação de ações fomentadoras do destaque feminino. A criação de redes de apoio, por exemplo, se mostra como uma das possíveis soluções, no entanto, é preciso ver outras possibilidades, como mostra a pesquisa da Fecomércio RN.

FOTO 3 INFOGRÁFICO

Estudo feito pela Fecomércio/RN entre os dias 29 de junho e 10 de julho de 2023. Foram aplicadas 25 perguntas a 201 empreendedoras(es). A pesquisa possui uma margem de erro de 3 pontos percentuais, com confiabilidade de 95%.

O relatório completo da pesquisa pode ser acessado no link a seguir: https://fecomerciorn.com.br/pesquisas.

Conhecendo algumas das que fazem o Rio Grande do Norte crescer através do empreendedorismo

Ana Alcântara atualmente trabalha vendendo bolos sob encomenda - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Ana Alcântara atualmente trabalha vendendo bolos sob encomenda – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Também conhecida como Cris Bolos, Ana Alcântara trabalha fazendo bolos sob encomenda. Ela sempre trabalhou como auxiliar de escritório e recursos humanos desde os 20 anos de idade. Há cinco anos ficou desempregada e decidiu investir na venda de bolos, que já fazia para os familiares. “Durante a pandemia, começaram a surgir encomendas de pequenos bolos e, graças a Deus, estou fazendo até hoje”, disse. Sobre os desafios do empreendedorismo, ela elencou que é necessário dar mais valorização às mulheres. De acordo com ela, uma das formas de encarar esse obstáculo é estar constantemente se capacitando. Recentemente, ela fez dois cursos no Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Norte (Sesc-RN), dessa forma conseguiu aperfeiçoar o trabalho. 

Débora Sanders concilia a rotina de mãe, consultora e digital influencer - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Débora Sanders concilia a rotina de mãe, consultora e digital influencer – Foto: José Aldenir/Agora RN.

A mercadóloga e influenciadora digital Débora Sanders, que faz parte da Câmara Fecomércio Com Elas, trabalhou por muito tempo no mercado de entretenimento. Em seguida, fez um curso no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no Rio Grande do Norte (Senac-RN), onde aprendeu sobre a criação de doces. Ficou à frente do próprio negócio em confeitaria durante cinco anos. Hoje, se dedica 100% à consultoria online e produtos digitais. De acordo com ela, o trabalho remoto tem proporcionado a possibilidade de conciliar o profissional com o contato familiar. Débora ainda conta que, seu papel como empreendedora possibilitou influenciar positivamente a formação das filhas, pois, mesmo em idade escolar, já pensam em criar o próprio negócio. Outro destaque é para o público de suas consultorias, 90% são mulheres.

Débora Sanders concilia a rotina de mãe, consultora e digital influencer - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Samira Nunes atualmente é dona de dois empreendimentos voltados ao público feminino – Foto: José Aldenir/Agora RN.

A jovem empresária Samira Nunes começou nos negócios há quase um ano. Atualmente, ela tem dois empreendimentos voltados para o público feminino na Zona Norte de Natal. Segundo ela, a “veia empreendedora” foi influência da mãe, que era sacoleira. Atualmente, as duas trabalham juntas no ramo de confecções e bijuterias. Para Samira, a principal dificuldade é a concorrência, visto que os setores de atuação tem aumentado bastante. Porém, a forma de lidar com isso, de acordo com a mesma, é buscar oferecer um bom atendimento, focar no melhor preço e divulgação por meio de novas tecnologias. “A mulher ganhou um espaço bem melhor no mercado, está mais independente, principalmente no fator financeiro, mas ainda falta uma se aliar com a outra, uma ser modelo para outra”, conta.

Elisângela Régia (à direita) empreendeu por muito tempo vendendo bolos e hoje trabalha no Sesc-RN - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Elisângela Régia (à direita) empreendeu por muito tempo vendendo bolos e hoje trabalha no Sesc-RN – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Elisângela Régia foi empreendedora no ramo de venda de bolos logo após fazer os cursos de bolos decorados e tortas, sobremesas e salgados para lanches no Sesc-RN. Viu nas formações, uma forma de trabalhar com algo que gerava maior identificação. Atualmente, trabalha como auxiliar de copa e cozinha na unidade Zona Norte. Todo aprendizado nas formações são aplicados no emprego atual, motivo de sua felicidade. “Adoro trabalhar aqui. Foi um presente que Deus me deu”, conta.

Além de ser proprietária de uma clínica de estética, Sâmela Gomes é presidente da Fecomércio Com Elas - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Além de ser proprietária de uma clínica de estética, Sâmela Gomes é presidente da Fecomércio Com Elas – Foto: José Aldenir/Agora RN.

“Tem dia que eu estou muito mais para comércio, tem dia que eu estou muito mais empreendedora, cuidando das minhas clínicas, tem dia que eu sou mais mãe, tudo depende do dia e da demanda”, disse a empresária e presidente da Fecomércio Com Elas, Sâmela Gomes. Atualmente, ela cuida de uma clínica de estética, mas também possui outros empreendimentos. Seu exemplo foi fundamental para a formação das quatro filhas, que atualmente lhe ajudam na administração dos negócios. Grande parte das empregadas do empreendimento onde ela atua é composta por mulheres, que também prestam serviço para o público feminino. 

Desafios enfrentados pelas mulheres de negócios

Os números revelados pela pesquisa da Fecomércio RN em relação ao perfil das mulheres empreendedoras apontam que a grande maioria das mulheres de negócios são mães, mais de 84%. Além disso, três em cada dez têm dificuldade de conciliar a vida pessoal e profissional, se comparado a apenas 8,5% dos homens. A maior parte do público feminino, 63,2%, também enfrenta a falta de acesso a fundos e capital, contra 62,3% do público masculino. 

Débora Sanders conta que o trabalho remoto ajudou a conciliar a vida pessoal com a profissional - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Débora Sanders conta que o trabalho remoto ajudou a conciliar a vida pessoal com a profissional – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Atualmente trabalhando com consultoria online, ela conta que só aceitou atuar dessa forma por causa da possibilidade de cuidar das filhas enquanto atende clientes. Mesmo assim, não demonstra encarar a conciliação do profissional com o pessoal como uma dificuldade, mas, sim, um desafio. “Só aceitei o meu trabalho atual porque é homeoffice. Primeiro, se eu tivesse que me mudar não era uma possibilidade no momento. Segundo, porque minhas filhas estão muito conectadas comigo”, comenta. 

“Nesta última pesquisa que a Fecomércio fez sobre o empreendedorismo feminino, nós vimos que as mulheres, infelizmente, acabam dedicando menos tempo em relação aos negócios, em comparação aos homens. Isso acontece porque elas ainda são cobradas muito socialmente por outros papéis, que é o papel de mãe e dona de casa. A casa não funciona se essa mulher não estiver à frente. E essas mulheres empreendedoras reclamaram, na pesquisa, de que não tem tanto apoio dos seus companheiros e da sua família. Quando a gente compara com os homens, não há tanta reclamação sobre isso. Isso demonstra que, devido a esse universo multifacetado, de tantos papéis, elas acabam tendo que se sobressair para administrar os negócios. Isso porque, em geral, elas têm menos tempo de dedicação aos seus empreendimentos. Isso é um risco para a mortalidade dos negócios. Então, elas precisam ser muito mais assertivas para que os negócios tenham longevidade”, conta Sâmela Gomes.

empreendedorismo
Sâmela Gomes relata as dificuldades de ser uma mulher empreendedora – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Outro dado relevante é que aproximadamente 28,9% das empreendedoras sentem dificuldade em escalar o negócio. No cenário masculino, o número é 34,1%. O preconceito de gênero é outro fator mencionado na pesquisa por 9,5% das empreendedoras e 3,6% dos empreendedores. 

Para Ana Alcântara, o problema está na valorização do trabalho. “A partir do momento em que você é empreendedora tem que correr atrás para fazer o próprio salário “, conta. “No empreendedorismo de bolo, por exemplo, trabalhamos com as mãos, com o psicológico. Um bolo em si, é uma responsabilidade, porque, em uma festa o principal é o aniversariante e o bolo. Muitos dizem ‘é só um bolinho’, mas desde o momento que a gente acorda pensa como será aquele bolo e entrega nas mãos de Deus, porque tudo tem que dar certo. Perfeito”, complementa. 

Ana Alcântara fala que as mulheres precisam ser mais valorizadas em seus negócios - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Ana Alcântara fala que as mulheres precisam ser mais valorizadas em seus negócios – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Mulheres empreendedoras e inspiradoras

Mesmo enfrentando desafios todos os dias, as mulheres de negócios têm se destacado por ajudar a incentivar outras mulheres a lutarem por melhores oportunidades. É o caso já mencionado de Samira Nunes, que viu no exemplo da mãe a possibilidade de empreender. “A forma como ela (a mãe) lida com os clientes, a forma como ela foi crescendo no mercado, consumidor fez com que eu me espelhasse”, conta. 

Samira Nunes cresceu vendo a mãe empreender - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Samira Nunes cresceu vendo a mãe empreender – Foto: José Aldenir/Agora RN.

“É uma coisa que me dava bastante orgulho, principalmente quando eu estava trabalhando direto com o meu negócio é que minhas filhas morriam de orgulho disso. Elas adoravam contar para os amigos: ‘a mamãe tem uma confeitaria’, ‘a mamãe foi dar uma palestra’, ‘a mamãe foi dar uma entrevista’”, disse Débora Sanders. “O que eu sinto é que independente do projeto que estou tocando, elas enxergam como: ‘posso fazer o que eu quiser, posso ser o que eu quiser, porque a minha mãe faz’”, complementa. 

Débora Sanders conta que filhas vêem seu esforço no dia a dia como um exemplo a ser seguido - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Débora Sanders conta que filhas vêem seu esforço no dia a dia como um exemplo a ser seguido – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Soluções para enfrentar os desafios do empreendedorismo feminino

Como forma de enfrentar os desafios do mercado de trabalho atualmente, 27% das mulheres entrevistadas pela Fecomércio RN apontaram que procuram redes de apoio. Enquanto isso, 24% dizem querer fazer parte de alguma iniciativa semelhante. 

De acordo com a pesquisa, as redes de apoio são apontadas pelo público feminino como uma forma de trocar experiências, criar uma rede de contatos, ou seja, o famoso “networking”, e obter informações. Uma das redes de apoio para mulheres disponíveis no Rio Grande do Norte é a Câmara da Mulher Empreendedora, da Fecomércio, aprovada no final de 2022 pelo Conselho de Representantes da entidade. 

Segundo a presidente da Fecomércio Com Elas, Sâmela Gomes, o surgimento do projeto é essencial para a economia potiguar. “Todos os estudos mundialmente apontam as mulheres como as grandes protagonistas da economia nos próximos anos. Elas não somente são as grandes detentoras de poder de consumo, mas elas começam a ter uma participação maior no mercado de trabalho e no empreendedorismo”, diz. A Fecomércio Com Elas foi fundada em fevereiro deste ano e tem se consolidado com o lançamento da pesquisa sobre o perfil da mulher empreendedora, além de outras medidas previstas até o final do ano.

Sâmela Gomes comenta que a Fecomércio tem papel fundamental para fomentar o empreendedorismo feminino no RN - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Sâmela Gomes comenta que a Fecomércio tem papel fundamental para fomentar o empreendedorismo feminino no RN – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Agora neste segundo semestre de 2023, uma série de oficinas de excelência empresarial serão promovidas visando trazer detalhes sobre network, caminhos profissionais, tecnologia transformadora, sustentabilidade empresarial dentre outros temas. 

Outra novidade é o lançamento de um edital de mentoria “Fecomércio Com Elas: Mulheres que Inspiram”, como forma de reunir empresárias que auxiliam o desenvolvimento de liderança. Por fim, haverá o evento Negócios em Conexão, visando fomentar a cadeia econômica feminina.

Formação da mulher empreendedora

Samira Nunes conta que começou a empreender por conta própria, mas relata a necessidade de fazer uma capacitação, principalmente para divulgar melhor o próprio negócio. “Os meios tecnológicos estão cada vez mais modernos e avançados, então eu vejo sim a necessidade de fazer uma capacitação até para poder divulgar o meu negócio de uma forma mais benéfica”, conta. 

Samira Nunes atualmente pensa em fazer uma formação para divulgar mais seus empreendimentos - Foto: José Aldenir/Agora RN.
Samira Nunes atualmente pensa em fazer uma formação para divulgar mais seus empreendimentos – Foto: José Aldenir/Agora RN.

Visando fomentar o empreendedorismo e diminuir a desigualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho. Atualmente, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no Rio Grande do Norte (Senac-RN) desenvolve uma série de cursos. A instituição conta com uma média de 20 mil alunos em suas unidades espalhadas por todo o RN, sendo cerca de 300 bolsas gratuitas distribuídas anualmente. De acordo com a escola, as formações mais procuradas por mulheres são na área de moda e beleza.

Outro projeto voltado ao público feminino oferecido pelo Senac é o projeto “Senac Conectando Mulheres”, com foco no interior do estado. “A ideia é capacitar mulheres empreendedoras, ou que desejam empreender, sobre as demandas, tendências e habilidades requeridas para o sucesso nos negócios, levando em consideração a realidade que elas enfrentam diariamente, quando precisam conciliar essas duplas e muitas vezes, triplas jornadas”, diz Dalliany Rocha, gestora Senac-RN e coordenadora do projeto Senac Conectando Mulheres.

Já o Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Norte (Sesc-RN), somente em 2023, lançou 600 vagas em cursos nas áreas de moda, gastronomia e artesanato de julho a novembro deste ano. Cada formação tem cerca de 20 vagas e são 100% preenchidas por mulheres. As oportunidades são distribuídas por Natal, Caicó, Mossoró, Nova Cruz, Macaíba e São Paulo do Potengi. 

“A sociedade tem uma dívida histórica com as mulheres quando falamos em igualdade de competição, salarial, crescimento profissional e etc. Nos dias atuais, mesmo as mulheres sendo capacitadas, com mais estudo e conhecimento, muitas vezes o reconhecimento não ocorre da mesma maneira em relação aos homens.  O Curso de Valorização Social foi pensado para atender a todos, seja homem, mulher, jovem ou idoso. Contudo, atraiu particularmente as mulheres, o que também nos deixa felizes, no momento em que proporcionamos essa oportunidade de melhoria na complementação da renda”, disse a diretora de Programas Sociais do Sesc-RN, Roseanne Azevedo.

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