O Centro de Reabilitação de Fissuras Labiopalatais do RN (Crefirn), no Hospital Infantil Varela Santiago, utiliza uma nova abordagem para realizar o diagnóstico precoce e o acompanhamento durante o pré-natal de pacientes com fissuras labiopalatinas, fenda labial no palato – o “céu da boca” – de crianças. Trata-se da ortopedia pré-cirúrgica, identificada pela odontopediatra do Crefirn, Vanessa Barbosa, como essencial para o tratamento precoce.
A ortopedia pré-cirúrgica, que utiliza aparelhos modeladores naso-alveolares, se inicia nos primeiros 15 dias de vida e é realizada até os 6 meses de idade, segundo Vanessa. “No período pré-natal, os tecidos do bebê são mais plásticos para permitir sua passagem no canal do parto. Após o nascimento, os tecidos do corpo mantêm essa plasticidade por um tempo, o que permite que aproveitemos essa característica para conseguir promover a remodelação dos processos alveolares, pré-maxila, lábio e nariz, permitindo guiar um crescimento mais adequado dessas estruturas que estão separadas pela fissura”, afirmou.
Com a fissura labiopalatina, a alimentação das crianças é dificultada, além de impactar no ganho de peso do bebê, podendo gerar desnutrição e alterações no formato e posição dos dentes, maxilar e nariz e comprometer o desenvolvimento da fala e audição. O tratamento, além de ajudar a alimentação do bebê, tem o objetivo de promover a diminuição da fissura, aproximando as bases da maxila que estão separadas. Isso significa restaurar o contorno do osso fissurado, o que proporciona também uma melhora na posição do lábio e nariz.
“Posicionados na região do céu da boca dos bebês, os modeladores promovem um selamento e vedamento da fissura. A diminuição do tamanho dessa fissura e reposicionamento das estruturas impactadas por ela também permite que o fechamento cirúrgico do lábio fissurado seja realizado mais facilmente, com uma menor tensão nos tecidos, o que traz uma série de benefícios, como uma melhora na recuperação e cicatrização pós-operatória, diminuindo o número de intercorrências, além de promover a redução em até 60% dos casos da necessidade de uma cirurgia futura de enxerto ósseo alveolar que seria realizada na adolescência”, explicou.
Tratamento com sucesso no Hospital Varela Santiago
Vanessa relata que um diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento. “O ideal é que assim que o bebê seja diagnosticado com fissura, ainda no pré-natal, sua mãe possa ser encaminhada para um centro de referência no atendimento”, completou. Foi o que aconteceu com Ivanilda Oliveira, mãe do bebê Enzo José, que foi encaminhada para o Hospital Varela Santiago logo na maternidade.
“Eu acho muito importante esse cuidado para que a criança se desenvolva melhor”, relatou a mãe. Enzo foi o primeiro bebê a ser tratado com a ortopedia pré-cirúrgica no hospital, segundo Vanessa. “Ele chegou ao hospital se alimentando por sonda. Já vemos resultados maravilhosos em pouquíssimo tempo de tratamento”, completou.
O primeiro contato com a mãe e com a criança permite o acolhimento das famílias, proporcionando que os responsáveis sejam informados e se sintam emocionalmente preparados para o tratamento do bebê, de acordo com a odontopediatra. “Esses pacientes passarão por várias fases de tratamento durante anos, por isso é fundamental que suas famílias sejam muito bem orientadas e acompanhadas”, lembrou Vanessa.
“É importante ressaltar que o quanto antes se inicie o aconselhamento da família como também o tratamento efetivo do fissurado, maiores são as chances de se alcançar os melhores resultados possíveis. A promoção de uma alimentação adequada impacta diretamente na nutrição e consequentemente no crescimento da criança”, disse.
Ela também lembra que o acompanhamento emocional é essencial para garantir a otimização de todas as fases do procedimento. A mãe do bebê Enzo, Ivanilda Oliveira, tem o apoio multiprofissional no processo de tratar a fissura labiopalatina da criança e motiva outras famílias a continuarem com o tratamento dos bebês, mesmo com dificuldades encontradas no caminho. “Para as mamães: não tenham medo e não desistam. A criança vai chorar um pouco, mas depois ela acaba se acostumando. O importante é o resultado”, completou.
AgoraRN