Um inquérito israelense sobre a morte de sete trabalhadores humanitários em um ataque aéreo em Gaza nesta semana constatou erros graves e violações de procedimentos por parte dos militares, o que resultou na demissão de dois oficiais e na repreensão formal de comandantes seniores.
O inquérito concluiu que as forças israelenses acreditaram erroneamente que estavam atacando militantes armados do Hamas quando os ataques de drones atingiram os três veículos do grupo de ajuda World Central Kitchens na segunda-feira, e que os procedimentos operacionais padrão foram violados.
“O ataque aos veículos de ajuda é um erro grave decorrente de uma falha grave devido a uma identificação errada, erros na tomada de decisões e um ataque contrário aos Procedimentos Operacionais Padrão”, disseram os militares em comunicado divulgado nesta sexta-feira (5).
O assassinato dos sete trabalhadores humanitários, que incluíam cidadãos de Reino Unido, Austrália e Polônia, um cidadão com dupla nacionalidade EUA-Canadá e um colega palestino, provocou indignação global esta semana.
O presidente dos EUA, Joe Biden, ameaçou uma mudança na política norte-americana em relação a Israel, a menos que o país reduzisse os danos aos civis e aos trabalhadores humanitários em Gaza, que já dependia de ajuda antes da guerra e viu a fome se espalhar por toda parte desde o início dos combates, há seis meses.
Os militares disseram que o comboio de ajuda era acompanhado por veículos leves que pararam em um hangar onde os caminhões foram descarregados antes de partir.
Um homem armado foi visto no topo de um dos caminhões e, quando os três veículos leves deixaram o hangar, os comandantes não identificaram esses veículos como pertencentes ao grupo WCK, disse o comunicado militar.
Yoav Har-Even, chefe do Mecanismo de Apuração e Avaliação de Fatos da IDF (forças israelenses) que liderou o inquérito, disse que as forças não conseguiram ver os logotipos da WCK nos veículos no escuro e agiram erroneamente com base na crença de que tinham sido apreendidos por combatentes do Hamas.
“O pensamento naquele momento era que a missão humanitária havia terminado e que eles estavam rastreando veículos do Hamas com um suspeito armado, pelo menos um suspeito armado, que eles identificaram erroneamente como estando dentro de um dos três carros”, afirmou ele a repórteres em coletiva de imprensa.
“Eles atingiram aquele carro e depois identificaram pessoas correndo para fora do carro e entrando em um segundo carro, e foi quando decidiram atingir o segundo carro. Aí duas pessoas saíram do segundo carro e entraram no terceiro carro, e foi quando atingiram o terceiro carro.”
Esses ataques violaram os procedimentos operacionais padrão das FDI, disse ele.
Os militares disseram que demitiram um chefe de brigada com patente de coronel e um oficial de apoio de fogo da brigada com patente de major, e repreenderam formalmente oficiais superiores, incluindo o general à frente do Comando Sul.
José Andrés, o chef de cozinha que fundou a World Central Kitchen, disse esta semana que os sete trabalhadores foram atacados “sistematicamente, carro por carro”, enquanto se deslocavam em busca de abrigo quando os seus veículos foram atingidos sucessivamente.
A World Central Kitchen pediu nesta sexta-feira uma comissão independente para investigar as mortes de seus trabalhadores em Gaza, dizendo que os militares israelenses não poderiam investigar de forma crível seu próprio “fracasso”.
O Exército comprometeu-se a abordar o fato de não ter conseguido ver os logos dos carros no escuro, como parte de um pacote mais amplo de lições a se tirar do desastre.
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Agência Brasil