Um navio transportando 200 toneladas de ajuda para Gaza deixou o Chipre na terça-feira (12) em um projeto piloto para abrir uma rota marítima para entregar suprimentos a uma população que as agências de ajuda dizem estar passando fome.
O navio de caridade Open Arms foi visto saindo do porto de Larnaca, no Chipre, com uma barcaça contendo farinha, arroz e proteína. A missão foi financiada principalmente pelos Emirados Árabes Unidos e organizada pela instituição beneficente World Central Kitchen (WCK), com sede nos Estados Unidos.
A viagem até Gaza leva cerca de 15 horas, mas uma barcaça de reboque pesada pode tornar a viagem consideravelmente mais longa, possivelmente até dois dias. O Chipre fica a pouco mais de 320 quilômetros a noroeste de Gaza.
As Forças Armadas dos EUA disseram que seu navio, o General Frank S. Besson, também estava a caminho para fornecer ajuda humanitária a Gaza por mar.
Com as agências de ajuda dizendo que as entregas em Gaza têm sido impedidas por obstáculos burocráticos e insegurança desde o início da guerra, em 7 de outubro, e até mesmo os aliados de Israel exigindo acesso mais fácil ao enclave, a atenção se voltou para rotas alternativas, incluindo lançamentos marítimos e aéreos.
A missão desta terça-feira é o ponto culminante de meses de preparação do Chipre, o Estado membro da União Europeia mais próximo do conflito. O país está atento aos efeitos colaterais da agitação no Oriente Médio e já está observando o aumento dos fluxos migratórios a partir do Líbano. Mais de 400 pessoas chegaram em barcos de pesca na segunda-feira (11).
Com a falta de infraestrutura portuária, a WCK disse que estava construindo um cais de desembarque em Gaza com material de edifícios destruídos e entulho. Essa é uma iniciativa separada de um plano anunciado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, na semana passada, para construir um píer temporário em Gaza para facilitar a entrega de ajuda por via marítima.
A construção do píer estava “bem encaminhada”, disse o fundador da WCK, José Andrés, em uma publicação no X. “Podemos fracassar, mas o maior fracasso será não tentar!”, escreveu ele, publicando uma foto do trabalho com escavadeiras aparentemente nivelando o terreno próximo ao mar.
Our WCK boat ready to sail to Gaza loaded with food reminds me why I started @WCKitchen—to feed people after crises no matter what. This is a time for action not for hollow promises. The world needs to join us to provide the humanitarian aid that Palestinians so desperately need… pic.twitter.com/m3d5RAfybn
— José Andrés 🇺🇸🇪🇸🇺🇦 (@chefjoseandres) March 11, 2024
Our WCK boat ready to sail to Gaza loaded with food reminds me why I started @WCKitchen—to feed people after crises no matter what. This is a time for action not for hollow promises. The world needs to join us to provide the humanitarian aid that Palestinians so desperately need… pic.twitter.com/m3d5RAfybn
Antes do início da guerra, em 7 de outubro, cerca de 500 caminhões entravam em Gaza por dia, 100 deles transportando ajuda e o restante suprimentos comerciais, como combustível e gás de cozinha, de acordo com a UNRWA, principal agência de ajuda da ONU em Gaza.
“Isso acontecia quando as lojas e os mercados estavam funcionando. Atualmente, toda a população de Gaza está dependendo quase que exclusivamente da ajuda humanitária”, disse à Reuters Juliette Touma, diretora de comunicações da UNRWA.
“Nenhum navio de ajuda por mar estava chegando a Gaza. Os caminhões estavam chegando por Karem Abu Salem pela estrada”, acrescentou ela.
A ONU estima que um quarto da população da Faixa de Gaza corre o risco de morrer de fome, e a ajuda mal consegue suprir as necessidades diárias. A ONU já havia acusado Israel de bloquear a ajuda à região. Israel nega que esteja impondo limites à ajuda e culpou a logística deficiente da ONU e de outras agências de ajuda pelos atrasos na entrega.
“As condições no local e entre os deslocados são muito terríveis. Tenho percorrido o mercado desde a manhã e os preços estão além da capacidade de pagamento das pessoas comuns”, disse Yamen, pai de quatro filhos, cuja família se abrigou em Deir Al-Balah, na região central da Faixa de Gaza.
O conflito deslocou a maior parte dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza, com muitos deles amontoados em barracas improvisadas com pouco alimento ou suprimentos médicos básicos na cidade de Rafah, no sul do país.
Houve cenas caóticas e incidentes fatais nas distribuições de ajuda, enquanto pessoas desesperadamente famintas lutam por alimentos.
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Agência Brasil