Um comitê especial da Organização das Nações Unidas (ONU) que investiga supostos abusos israelenses nos territórios ocupados declarou, nesta quinta-feira (14), que os métodos de guerra utilizados por Israel na Faixa de Gaza “correspondem às características de genocídio”.
O comitê concluiu que, “desde o início da guerra”, em outubro de 2023, “as autoridades israelenses têm apoiado publicamente políticas que privam os palestinos das necessidades vitais mais básicas”, incluindo alimentos, água e combustível.
Os peritos consideram que a fome se tornou “arma de guerra” e que há o desejo de “infligir castigos coletivos à população palestina” em retaliação pelos ataques do grupo extremista Hamas.
As declarações de altos funcionários e os obstáculos “sistemáticos e ilegais” à entrada de ajuda humanitária “tornam claro” para o Comitê Especial da ONU que Israel procura instrumentalizar os recursos mais básicos para fins políticos e militares.
A ofensiva militar na Faixa de Gaza “criou uma mistura letal de crises que causará sérios danos às gerações vindouras”, afirmam os peritos da ONU em relatório citado pela agência espanhola Europa Press.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas no sul da Israel em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel com a invasão da Faixa de Gaza provocou mais de 43.700 mortos desde então, segundo as autoridades do enclave governado pelo Hamas desde 2007.
Até fevereiro, as forças israelenses utilizaram mais de 25 mil toneladas de explosivos na Faixa de Gaza, disseram os membros do comitê no relatório, também citado pela agência francesa AFP.
Trata-se, segundo o comitê, do “equivalente a duas bombas nucleares”, ou seja, quase o dobro da bomba lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima em 1945.
Em relação aos bombardeios em Gaza, o comitê considera que Israel não está cumprindo a obrigação de tomar todas as precauções possíveis para evitar efeitos colaterais em civis, ao usar inteligência artificial “com supervisão humana mínima” e “bombas pesadas”.
Os membros do comitê da ONU criticam também as autoridades israelenses por promoverem a censura dos meios de comunicação social, bloqueando o acesso à informação e reprimindo a dissidência.
Essas práticas, afirmam, fazem parte dos esforços para controlar o discurso público, que incluem campanhas contra a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês) e a ONU em geral.
O comitê acusa Israel de ter ignorado no último ano apelos repetidos da ONU e as decisões do Conselho de Segurança e do Tribunal Internacional de Justiça, que analisa queixa sul-africana por suspeita de genocídio em Gaza.
O comitê apela para que a comunidade internacional deixe de apoiar a ofensiva israelense em Gaza e o sistema de apartheid na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.
“Respeitar o direito internacional e garantir a responsabilização recai diretamente sobre os Estados-membros [da ONU], afirmam os autores do relatório.
“Se não o fizerem, minam o próprio núcleo do sistema jurídico internacional e criam um precedente perigoso, permitindo que as atrocidades ocorram sem controle”, advertem.
O relatório será apresentado na segunda-feira (18) à Assembleia Geral da ONU em Nova York, nos Estados Unidos, segundo a AFP.
O grupo que investiga as práticas israelenses que afetam os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados foi criado pela Assembleia Geral da ONU em 1968.
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Agência Brasil