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MONIZE MOURA UFRN 222

“Foi uma felicidade enorme ter a minha primeira dramaturgia premiada. Saber que ela foi compreendida na dimensão das discussões étnico-raciais, foi muito significativo para mim”, relata Monize Moura, professora do Departamento de Artes (Deart) da UFRN e uma das vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2024. A premiação, com foco na dramaturgia, é voltada para jovens autores negros e será realizada no dia 21 de novembro, em São Paulo. O texto de Monize selecionado para receber o prêmio se chama Depois da Fronteira, uma peça de teatro que se desenvolve a partir de situações limites vividas por duas mulheres do Sul Global. 

O texto, que começou a ser escrito em 2023, é uma peça sobre a relação entre memória e identidade. Nele, são abordados assuntos como a diáspora, a migração e o luto por meio da perspectiva feminina. O material elaborado pela professora será lançado e publicado pela SP Escola de Teatro e pelo Selo Lucias no livro Eternizar em Escrita Preta – Volume 5. Além do texto de Monize, estarão na obra César Divino, com Memórias de Um Afogado, e Michael Xavier, com Boreta. Ambos também são vencedores do Prêmio Solano Trindade 2024

Monize comenta que no início do processo de escrita tinha o desejo de abordar, por meio da linguagem do teatro, questões sobre memória e direito à memória. Essas temáticas apareciam com bastante frequência na sua prática como professora de História do Teatro Brasileiro. “Eu quis experimentar um processo criativo que tratasse essas questões de uma maneira mais profunda”, conta a docente. Em 2024, a professora participou de uma oficina com Victor Nóvoa, produtor e dramaturgo do grupo A Digna, um coletivo teatral localizado em São Paulo. De acordo com Monize, foi a partir dessa experiência que Depois da Fronteira começou a ser desenvolvido. 

O livro será distribuído gratuitamente no dia da premiação. Foto: Arquivo pessoal/Monize Moura

“Nesse processo, contribuíram muito as leituras das cenas feitas por outras dramaturgas, por amigos, pelo meu companheiro e, também, pelas parceiras com as quais hoje estou montando essa peça. Algumas, inclusive, são professoras do Deart, do curso de teatro. Elas liam as cenas e traziam reflexões e histórias pessoais que me ajudaram a ir compondo a dramaturgia”, comenta. Ainda sobre o processo de escrita do texto, Monize fala sobre a importância das questões raciais presentes em Depois da Fogueira e de como elas foram cruciais para a construção do material. 

“Como mulher negra de pele clara, a elaboração da minha própria identidade é parte de um processo conflituoso. Isso envolve, inclusive, a negociação de memórias de minha própria família, que nem sempre se identificou como negra, mas sim como mulata, mestiça, morena, ‘enxofrada’, e por aí vai. O racismo brasileiro tem a ver também com a produção de silenciamentos a respeito da cor. Isso é parte do processo de embranquecimento do Brasil, que foi um projeto”, relata Monize. De acordo com a docente, Depois da Fronteira também retrata esses assuntos. Ela conta que a escrita do texto a conduziu, de maneira intuitiva, a um letramento racial mais profundo. É por meio desse letramento que a professora tenta elaborar as questões raciais, sobretudo por uma das personagens, que é uma mulher negra. 

“Perceber como esse processo de embranquecimento entra na minha vida foi e ainda é uma virada, porque me mostra como as relações entre memória e identidade precisam ser pensadas pela perspectiva racial. É uma virada, também, porque me mostra essas questões de maneiras muito concretas, no meu dia a dia”, complementa Monize.

Depois da Fronteira é a dramaturgia de estreia de Monize Moura. É, também, a primeira vez que a professora ganha um prêmio com esse tipo de produção. Para a docente, a premiação é de extrema importância e a incentiva a continuar escrevendo. “Me mostra que é possível que eu me enxergue na posição de dramaturga, um espaço historicamente ocupado por homens, em geral brancos. O prêmio nos encoraja a levar esse texto para a cena, processo em que estou agora, junto com minhas colegas do Deart e de uma equipe que está se formando”, destaca a docente. 

Mais sobre o prêmio

Criado em 2020 e voltado ao reconhecimento do trabalho de dramaturgos negros, o Prêmio Solano Trindade é concedido pela SP Escola de Teatro. A instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo seleciona três textos inéditos dramatúrgicos produzidos por artistas negros.

Por meio do Selo Lucias, os textos premiados são publicados em livro, impresso e digital. O material também é distribuído gratuitamente durante o lançamento. Mais informações podem ser encontradas no site da SP Escola de Teatro.

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