Começou a campanha para a Prefeitura do Natal. E nasceu mal por parte de alguns candidatos, pela “não-discussão” dos problemas de quem pretendem conquistar votos e delegação para administrar um orçamento de 4,8 bilhões de reais/ano, coisa de 400 milhões/mês e 13,333 milhões/dia.
Neste latifúndio financeiro caberia, claro, alguns milhões para a Habitação. Melhor, para a esdrúxula falta dela. Beirando o milhão de habitantes, Natal abriga cerca de 200 mil residências, com déficit de 24.848 unidades e uma dolorosa estatística de 23.857 famílias vivendo em coabitação, ou seja, “morando de favor” na inconveniência de não terem, nem deixarem pais e sogros terem direito à privacidade, algo sagrado na cultura da vida privada.
Afora a tragédia de mais de 3.000 moradores de rua, com suas incubadoras de “cracolândias” que residem nesta forma cruel de exclusão a que só se dará importância quando explodir e se tornar incontornável, como em São Paulo e noutras metrópoles.
Pré-candidatos que já foram gestores de Natal e que não deram nenhum passo significativo na solução da bomba habitacional, especialmente os que buscam de pires na mão o apoio do prefeito atual que também não tem projeto sério de solução do problema, resolveram dar sinal de vida detonando a deputada petista Natália Bonavides, porque, por óbvio ela solidarizou-se com o MLB, que ocupou um prédio há anos em estado de decomposição.
Uma casa de 40m² para uma família de até dois salários mínimos custa 60 mil reais. 30 mil delas custariam 1,8 bilhão de reais. Resolver o problema num mandato levaria 450 milhões por ano, menos de 10% do orçamento de Natal. Mas há que se contabilizar que uma prefeitura que jogasse na mesa de negociações um terço disso poderia contar com dois terços vindos do Governo do Estado e, principalmente, do Governo Federal que resgatou em novembro passado, a Faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, que Bolsonaro tinha destruído com a fake “Casa Verde e Amarela”, engodo que tirou dos pobres o sonho da casa própria, coisa que nem a ditadura tinha negado em tempos de BNH e de “Embrião” da Cohab dos tempos de Agripino.
O grande problema é que a nova campanha política entrou no padrão medíocre do discurso doentemente ideologizado que leva a crer que não basta ser pobre, mas é preciso estar debaixo da ponte, esfaimado e odiado.
Como conquistar votos da classe média alienada e dos 0,5% dos natalenses que ganham 215 mil reais/mês se, assim, como o racismo, o machismo/misoginia e a homofobia, não se chamuscar na fogueira das vaidades e da burrice odiosa da aporofobia, o mais velho dos ódios, ainda que seja o mais recentemente batizado?
AgoraRN