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Pesquisa da UFRN investiga funcionamento de ecossistemas em rios intermitentes

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Rios intermitentes são aqueles cujas águas deixa de correm em certo período – Foto: Cícero Oliveira

“Não chove mais em certo período como de costume”. “Determinado animal, tão comum antes, raramente aparece aqui”. “Aquele rio não corre mais ali”. Cenários como esses têm se tornado cada vez mais comuns, com paisagens — temporária ou permanentemente — alteradas e efeitos futuros ainda difíceis de prever, graças a mudanças climáticas aceleradas pela relação predatória da humanidade com o planeta.

Uma pesquisa do Centro de Biociências (CB/UFRN), recém-aprovada na chamada universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), busca entender como vivem, resistem e se adaptam certas populações frente a tantas alterações ambientais. Intitulado Dinâmicas eco-evolutivas e seus impactos na estrutura de comunidades e funcionamento ecossistêmico ao longo de gradientes de intermitência de rios e impactos antrópicos, o projeto, classificado como o quarto melhor na área de Ecologia e Limnologia, tem duração de 36 meses.

Durante esse período, a equipe de cientistas vai pôr em diálogo estudos ecológicos e evolutivos, duas perspectivas divergentes até pouco tempo atrás. “Acreditava-se que processos evolutivos ocorriam em amplas escalas temporais, enquanto os ecológicos eram, relativamente, de curta duração”, explica Andros Gianuca, professor do Departamento de Ecologia (Decol/UFRN) e líder do projeto.

De acordo com o cientista, pesquisas recentes indicam uma simultaneidade entre ambos os processos, bem como a associação deles tem levado a descobertas surpreendentes na área de biodiversidade. “Há uma percepção crescente de que estudos puramente ecológicos ou evolutivos são incapazes de integrar as complexidades de sistemas naturais”, comenta.

Nesse sentido, rios intermitentes, aqueles cujo curso cessa em determinados períodos do ano, podem trazer algumas respostas importantes à ciência. Em regiões com grande variação de temperatura, onde pode haver longas estiagens ou frio extremo, essa dinâmica é natural, mas ela também pode se dar por razões antrópicas, ou seja, em consequência da ação humana. E, de uma forma ou de outra, tal condição faz desse um sistema propício a estudos do tipo.

“As fortes pressões seletivas nestes sistemas os tornam ideais para investigar o papel das dinâmicas eco-evolutivas sobre a estruturação da biodiversidade e o funcionamento destes ecossistemas”, ressalta o professor. Andros destaca, ainda, o fato de os estudos mais recentes focarem principalmente em rios perenes, que nunca secam, conferindo a este projeto um caráter de singularidade.

Considerando o momento crítico em relação aos sistemas fluviais ao redor do mundo, a pesquisa vem em boa hora. Com uma contribuição à variedade de formas de vida no planeta muito superior ao que a sua superfície sugere, os rios vêm experimentando uma diminuição da biodiversidade consideravelmente alta, com taxas bem aceleradas em comparação a biomas terrestres e marinhos.

Alterações no regime hídrico e na qualidade da água, perda de conectividade e aumento da seca são alguns fatores preponderantes para a formação dessa conjuntura. Em escala global, especialistas estimam um aumento da proporção de rios intermitentes, levando em consideração as mudanças climáticas e a extração de água para consumo humano.

Dessa forma, os cientistas vão avaliar como são determinadas as características ecológicas das espécies tolerantes à intermitência, se elas podem adquirir resistência a estressores antrópicos e, ainda, se isso se traduz na estabilidade de funções ecossistêmicas frente a perturbações. Para tanto, os estudos devem utilizar bases de dados já coletadas, por meio de colaborações internacionais, e conduzir experimentos eco-evolutivos e amostragens similares em rios do Nordeste, ampliando o foco em sistemas tropicais.

“Com este enfoque inovador, esperamos revolucionar o entendimento sobre a estruturação e o funcionamento destes ecossistemas. Isso será especialmente relevante frente a estimativas de aumento da intermitência em rios perenes tropicais, devido a mudanças climáticas”, afirma Andros Gianuca.

Atualmente, o professor realiza um pós-doutorado em Lyon, na França, com Thibault Datry, um dos colaboradores do projeto e um dos pesquisadores mais renomados do mundo sobre ecologia de rios intermitentes. Também contribuem cientistas dos Estados Unidos, da Noruega, de Portugal e das universidades federais do Ceará (UFC), da Paraíba (UFPB), Rural do Semi-Árido (Ufersa), do Vale do São Francisco (Univasf) e de São Carlos (UFSCAR). O grupo celebrou a aprovação da proposta.

“A publicação do resultado pelo CNPq, indicando que o projeto aprovado recebeu a quarta melhor avaliação nacional na área de Ecologia e Limnologia, deixou toda a equipe muito feliz e confiante no êxito da proposta. Isso também reforça a relevância do tema abordado, a capacidade técnica e intelectual dos envolvidos, assim como o potencial de geração de conhecimento, a partir de publicações de alto nível e formação de recursos humanos”, conta o professor já vislumbrando mais benefícios para a comunidade acadêmico-científica.

“Em breve teremos processo seletivo para mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRN. Pretendo abrir oportunidades de orientação a alunos que queiram participar deste projeto e fazer um intercâmbio no exterior, por exemplo em um doutorado sanduíche com um de nossos colaboradores”, detalha o pesquisador.

AgoraRN

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