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Adolescentes afegãs são espancadas por uso inadequado de véu islâmico

A woman speaks with an election official as she prepares to vote in the Afghan election in Mazar e Sharif in northern Afghanistan August 20, 2009.  REUTERS/Caren Firouz  (AFGHANISTAN POLITICS ELECTIONS)
© REUTERS/Caren Firouz

O Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício do Afeganistão deteve e agrediu jovens afegãs por usarem o hijab, o véu islâmico, de forma inadequada. O regime talibã, que governa o país, chamou as jovens de “infiéis”.

Salas de aula, mercados, centros comerciais, nada escapou em Cabul ao olhar repressor do poder talibã.

Dezenas de meninas e mulheres foram detidas ou espancadas em Cabul pela polícia da moral, que afirma estar agindo contra o mau uso do hijab.

As jovens foram acusadas de “divulgar e encorajar outras pessoas a usar mal o véu islâmico” e a usar maquiagem.

Um dos testemunhos citados na publicação britânica The Guardian – sob anonimato – é de uma menina de 16 anos que conta que foi presa com mais colegas de escola. Estavam na aula de inglês e foram levadas para um caminhão da polícia. As jovens que resistiram “foram espancadas”.

A adolescente relata que foi “chicoteada nos pés e nas pernas” quando tentou argumentar com os talibãs. O pai foi também espancado por “criar meninas imorais”.

“A minha roupa era modesta e incluía até uma máscara facial – uma precaução que tomei desde a tomada do poder pelos talibã”, disse ela. “Mas eles me bateram mesmo assim, insistindo que minha roupa era imprópria”. A jovem contou ainda que foi detida durante dois dias e duas noites, acrescentando que os policiais as chamaram “repetidamente de infiéis”, e insultaram por estudarem inglês e aspirarem ir para o exterior.

“Fui proibida de frequentar a escola quando os talibãs assumiram o poder em 2021 e agora nem frequentar aulas particulares posso”, declarou.

“Eu vi o quanto o meu pai apanhou porque fiz o curso [de inglês]. Quando vi as fotos depois de voltar para casa, fiquei com muito medo de perdê-lo. Não tenho motivação para estudar depois disso. Não quero essa experiência novamente”.

“Não consigo mais imaginar nada para o meu futuro além de ficar em casa e me casar”, disse a menina.

Em mensagem de voz ao The Guardian, o principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, afirmou que as famílias das mulheres detidas manifestaram preocupação ao Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício. Alegou que as jovens eram apoiadas por grupos estrangeiros para promover o mau uso do hijab.

“Como resultado, foram levadas para quarteis de polícia e libertados sob fiança”, anunciou, acrescentando que essas detenções “não são prática habitual”.

Ativistas dos direitos das mulheres no Afeganistão afirmam que a onda de repressão é mais um passo dos talibãs para restringir direitos das mulheres e excluí-las da vida pública.

“Essa é uma desculpa para impor mais restrições às mulheres”, disse Sanam Kabiri, membro do grupo de direitos Unidade e Solidariedade das Mulheres Afegãs, acrescentando que “o objetivo é impedir as mulheres de saírem mesmo quando precisam”.

Fereshta Abbasi, integrante da organização Human Rights Watch, com sede em Nova York, observou que as detenções de mulheres no Afeganistão são mais uma repressão aos direitos básicos delas. “Podem intimidar e pressionar, mesmo as mulheres que ainda trabalham nos setores de saúde,  ensino primário e nutrição, e não podem mais aparecer em público como costumavam fazer”.

Kabiri acrescentou à publicação VOA que as mulheres no Afeganistão usam hijab, mas poderiam ter sido presas simplesmente por “usar jeans, roupas justas ou lenço colorido”.

Em maio de 2022, os talibãs emitiram decreto exigindo que as mulheres usassem burca da cabeça aos pés e apenas mostrassem os olhos.

“Depois de privar as mulheres dos seus direitos, estão agora a prendê-las por causa do hijab”, disse Kabiri. “Os talibãs pretendem tirar as mulheres da vida pública e tornar sua vida um inferno”, acrescentou.

O relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos no Afeganistão, Richard Bennett, disse em publicação na rede social X que as detenções “lamentavelmente [significam] mais restrições à liberdade de expressão e minam outros direitos”.

Ele apelou à autoridade talibã para libertar as mulheres imediatamente, sem impor  qualquer condição.

Também a Missão de Assistência da ONU no Afeganistão expressou preocupação com a “detenção arbitrária” das ativistas da educação das jovens afegãs.

“A Unama pede o fim das detenções arbitrárias. Os direitos à família, aos advogados, aos cuidados e a um julgamento justo devem ser respeitados”.

O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, rejeitou a declaração da ONU. Reiterou que “não foi feita nenhuma prisão arbitrária e que suas ações são legais e baseadas na Sharia – sistema jurídico do Irã”.

*É proibida a reprodução deste conteúdo.

Agência Brasil

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