Arleide Ótica topo
Categorias
Pesquisar

Potiguar que mora na Argentina comenta sobre proposta de Milei de taxar estudantes estrangeiros

Potiguar Angeline Sarah, de 20 anos, relata que sente uma diferença cultural muito grande com os argentinos. Foto: Cedida
Potiguar Angeline Sarah, de 20 anos, relata que sente uma diferença cultural muito grande com os argentinos. Foto: Cedida

A Argentina tem sofrido mudanças desde que o atual presidente Javier Milei assumiu seu mandato em dezembro de 2023. Entre as medidas econômicas sugeridas pelo presidente argentino, está a proposta de impor taxas aos estrangeiros que usufruem da gratuidade nas universidades argentinas. A proposta ainda precisa passar pelo Congresso Argentino.

De acordo com a imprensa argentina, há mais de 10 mil estudantes universitários brasileiros que vivem no país, em sua grande maioria que estudam em Buenos Aires e estuda Medicina na universidade pública e gratuita. Uma dessas estudantes é a potiguar Angeline Sarah, de 20 anos. Para saber mais sobre como tem sido para ela, o AGORA RN conversou com a jovem.

Angeline está indo para seu terceiro ano de medicina na Universidade de Buenos Aires e conta que o custo de vida na Argentina foi um dos atrativos para ela. “Em 2021, uma amiga me disse que estava indo estudar lá, para fazer medicina, e eu que ainda não tinha um plano, pensei que seria uma boa ideia, porque sempre quis fazer universidade fora do Brasil. Procurei mais informações e vi que a UBA está entre as melhores faculdades da América Latina e procurei em relação ao custo de vida na Argentina e vi que não era tão caro, o que tornava ir estudar lá mais favorável por um ângulo financeiro também”, conta.

Em relação a ser uma brasileira vivendo na Argentina, a potiguar afirma que existem muitos pontos positivos. “Vejo companheiros de outros países como a Colômbia, Equador ou Venezuela tem mais dificuldade em alguns aspectos, e essa diferença se dá ao fato que em Buenos Aires há uma quantidade muito grande de brasileiros, o que torna mais fácil diversos processos como encontrar apartamento, fazer amizades ou conseguir produtos do Brasil”, explica.

Porém, ela também relata que sente uma diferença cultural muito grande com os argentinos, além da barreira linguística. Angeline aprendeu espanhol para ir viver lá, mas ainda assim diz não ser a mesma coisa de quem já é nativo.

Sobre os aspectos sociais, ela diz sentir que, como todos os países da América Latina, a Argentina também tem os seus problemas. “Não me sinto muito confortável entrando muito a fundo nesse tema até porque já escutei algumas vezes das pessoas de lá que “não é o seu país, você não tem que opinar”. Assim como no Brasil há uma diferença social gritante entre a classe alta e a baixa, mas eu vejo que lá as pessoas da classe trabalhadora são muito mais investidas em conseguir os seus direitos, realizando greves e protestos quase que semanalmente”, diz.

Ela ainda ressalta que é por causa de protestos como esses, durante o século XX, que eles conseguiram colocar na constituição federal deles a educação como um direito de todos, “E é por isso que eu, uma estrangeira, e tantos outros, podemos estudar lá de maneira gratuita”, completou.

Questionada sobre como foi estar na Argentina e vivenciar as últimas eleições de perto, Angeline conta que era possível sentir a tensão da população de perto. “Honestamente foi psicologicamente exaustivo. Era horrível, porque vários amigos tinham muito medo que Milei ganhasse e o que ele poderia chegar a fazer com o país, mas não é como se alguma das outras opções, principalmente o seu principal adversário Sergio Massa, fossem opções que nos deixassem muito mais tranquilos”, explica.

A estudante, que atualmente está de férias no Brasil, conta que desde a posse de Javier Milei já houveram vários protestos contra as mudanças que ele quer implementar, inclusive um feito cercando todo o prédio do congresso Argentino. “Muitas contas como energia e água aumentaram de preço, e a cotação aumentou também, ou seja, o real está valorizado por agora”, ressalta.

Com relação a proposta do presidente de taxar estudantes estrangeiros, a jovem potiguar diz que é um tema com diversos pontos. “O primeiro ponto é: qualquer estudante que já está na argentina, já tem o seu DNI (Documento Nacional de Identidad), o que significa, de uma maneira mais grosseira, que já não somos apenas estrangeiros, e sim pessoas com residência definitiva no país, fator este que impede que ele taxe qualquer um desses estudantes que já tem sua documentação”, diz.

Apesar de não ser diretamente afetada pela medida, Angeline conta que novos estudantes podem seguir o mesmo caminho. “A verdade é que ninguém sabe de que maneira ele vai tentar implementar essa mudança da qual fala, porque qualquer estudante novo também pode fazer sua documentação e ganhar a residência permanente, geralmente podendo levar até um ano para que receba o seu documento e status de residente”, explica.

A estudante de medicina ainda lamenta, pois na Constituição Federal Argentina é garantido o direito da educação gratuita para todos. “É tudo muito complicado e com muitas nuances e infelizmente a única maneira de entender como tudo isso vai ser realizado é esperar até que algo seja implementado definitivamente”, completa.

Sistema de ensino argentino

Na Argentina, o sistema de acesso às universidades difere do brasileiro, que é caracterizado por vestibulares altamente concorridos. Desde 2015, uma lei nacional aboliu os processos de admissão nas instituições de ensino superior.

Os estudantes interessados em cursar o Ensino Superior não precisam mais fazer vestibular, e não há um número restrito de vagas. Algumas universidades adotam abordagens alternativas, como um ciclo básico que os estudantes devem concluir no primeiro ano para nivelar o conhecimento.

AgoraRN

Arleide ÓTICA
Pesquisar
Categorias
Canal YouTube
WhatsApp