Um novo software de inteligência artificial (IA), desenvolvido pela Universidade Martin Luther Halle-Wittenberg (MLU), na Alemanha, pode levar historiadores e outros estudiosos a novas descobertas sobre a humanidade. Isso porque ele é capaz de decifrar textos em tabuletas cuneiformes – mesmo as difíceis de ler, por causa do mau estado de conservação.

A IA opera por meio de modelos 3D das tabuletas, obtendo resultados mais confiáveis do que em métodos anteriores, com sistema regulado por padrão fotográfico, 2D. Além disso, é capaz de comparar os textos já mapeados. Todos ficam salvos num grande banco de dados da IA. “O OCR (tecnologia até então utilizada) geralmente funciona com fotografias ou digitalizações. Não há problemas para tinta em papel ou pergaminho. Já no caso de tabuletas cuneiformes, as coisas são mais difíceis porque a luz e o ângulo de visão influenciam muito a forma como certos caracteres podem ser identificados”, diz Ernst Stötzner, pesquisador da MLU que criou a nova IA como parte de sua tese de mestrado com o cientista Hubert Mara, conforme publicado no site da universidade.

Além deles, participaram do estudo alguns pesquisadores da Universidade Johannes Gutenberg Mainz e da Mainz University of Applied Sciences. Ao todo, eles já mapearam e criaram quase 2 mil modelos 3D de tabuletas cuneiformes. “Isto torna possível pesquisar o conteúdo de várias tabuletas para compará-las entre si”, diz o texto de divulgação no site da MLU. A estimativa da universidade é de que, hoje, existam cerca de 1 milhão de tabuletas no mundo. Muitas têm mais de 5 mil anos e são os registros escritos mais antigos da humanidade.

Vislumbre do Passado

“Tudo pode ser encontrado nelas: desde listas de compras até decisões judiciais. As tabuletas fornecem um vislumbre do passado da humanidade há vários milênios. Porém, estão fortemente desgastadas”, diz Hubert Mara. As tabuletas são pedaços de argila com textos esculpidos. Os povos antigos modelavam a argila crua no formato de tábua e escreviam nela, utilizando ferramentas que afundavam o material, formando letras e símbolos – com o passar dos anos, isso passou a ser feito com prensas. Depois, as tábuas eram assadas e ficavam rígidas. Para além da ação do tempo sobre o material – em especial sobre tabuletas mal guardadas, em que há grandes desgastes –, outro desafio para a leitura dos antigos textos é que o sistema de escrita era muito complexo e abrangia diversos idiomas hoje extintos. Por isso, a atividade demandava condições ideais de iluminação, para reconhecer corretamente os símbolos, e muito conhecimento prévio.

Com a nova IA, isso fica mais fácil: o software compara a tabuleta analisada com todas as outras já mapeadas e armazenadas no seu banco de dados. Assim, reconhece o idioma automaticamente.

 

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