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Terceiro dia da Mostra CECCO reforça a relação entre arte e saúde mental

Mostra CECCO – A arte vence o manicômio. Foto: SMS
Mostra CECCO – A arte vence o manicômio. Foto: SMS

Entre os dias seis e oito de dezembro, aconteceu a “Mostra CECCO – A arte vence o manicômio”, exposição com o objetivo convidar a população de Natal a conhecer a história do Centro de Convivência e Cultura de Natal (CECCO), serviço da Rede de Atenção Psicossocial. O Centro opera na interface entre saúde e cultura, e a mostra teve como função reforçar a ética antimanicomial no cuidado em saúde mental no município, por meio da exibição de diversas expressões artísticas desenvolvidas pelos convivas que frequentam o centro.

O último dia da Mostra, na sexta-feira 8, foi marcada pela exibição do curta-metragem “Enfim Livres”, realizado pela conviva Katiane Nascimento (Katplayer), com material gravado no CECCO, que aborda o combate à autoagressão e o suicídio, trazendo o tema para uma ótica e social e não apenas como um problema individual.

“O uso dessa ferramenta é muito importante para que as pessoas não tomem essa atitude, e para que ela seja uma rede de informação sobre este assunto que é a autoagressão, ou seja, a tentativa de suicídio, criando uma ênfase em um tratamento que identifique quando a pessoa vai precisar de um cuidado para não cometer algo a si mesma, para não chegar a esse extremo”, comenta Katiane, sobre a escolha do formato audiovisual para refletir sobre a temática.

Katiane reforça a importância da Mostra para a divulgação do trabalho desenvolvido e na relação da sociedade com a loucura e a saúde mental. “Acredito que o maior manicômio, está na mente das pessoas, dentro das pessoas que tem preconceito, esse é o maior manicômio, porque pessoas assim como eu são muito capazes, a nossa capacidade vai além do que a gente possa imaginar, e quando usamos para coisas boas, para as coisas que realmente valem a pena, isso muda até o mundo e a maneira como as pessoas tratam umas às outras”.

A arte vence o manicômio

Durante os três dias do evento, a Mostra levou para a Fundação Cultural Capitania das Artes (FUNCARTE) diversas atividades culturais com o intuito de celebrar a arte e o cuidado em liberdade, convidando a sociedade a desestigmatizar a sua relação à loucura e à saúde mental.

O evento contou com exposição das obras de arte desenvolvidas pelos convivas (integrantes do Centro), como pinturas e esculturas, durante os seis anos de funcionamento do CECCO, como também com apresentações de teatro, dança, cortejo de percussão, declamação de poesias, entre outras.

Além dos materiais dos convivas, a mostra envolveu um trabalho de pesquisa com a intenção de buscar e identificar a autoria de diversos trabalhos realizados no Ambulatório de Saúde Mental (serviço que antecedeu o CECCO) que estavam arquivados e agora tiveram a chance de ser mostrados ao grande público.

“Contamos com o trabalho de retirar do anonimato esses autores, porque muitos desses materiais do ambulatório são quadros que estavam sem autoria, ou que só constavam com o primeiro nome, ou foram realizados em processos coletivos, então tivemos esse processo de resgatar essa história para poder expor essas obras”, comenta Júlia Shenkel, psicóloga, diretora da Residência Terapêutica Oeste e uma das curadoras da Mostra, sobre o trabalho de pesquisa desenvolvido que conseguiu identificar alguns autores que tiveram seus trabalhos expostos e foram homenageados durante a Mostra.

Para Natália Campos, Coordenadora do CECCO Natal, a importância do evento foi exibir o acervo desenvolvido pelos artistas, reconhecendo a potência estética das obras e a importância de apresentá-las para a cidade. “Temos, a partir da reforma psiquiátrica, uma dimensão que não conseguimos avançar muito, que é a dimensão sociocultural, porque ainda temos muito preconceito, por isso todos os serviços da rede de atenção psicossocial tem como missão transformar essa relação que a sociedade tem com a loucura, para que ela não precise ficar nesse lugar de exclusão, de esquecimento”.

Alberto Medeiros, escultor e um dos convivas em destaque na Mostra, reflete em suas obras de arte sobre sua realidade, principalmente sobre seu processo em instituições manicomiais. “Os manicômios te amarram de um jeito que você só pode ser aquilo, você é um remédio e ponto, aí a arte foi me desbloqueando, foi me libertando.”, comenta.

O conviva utiliza materiais reutilizáveis para se expressar, e reforça a importância do Centro e da arte como um processo de libertação. “Eu tenho uma irmã que me chamava de lixo humano, então comecei a pegar esse material e a reciclar para fazer minhas esculturas. Desde que eu descobri essa riqueza que é o centro de convivência eu me transformei, então se eu fui transformado também posso transformar.”, finaliza.

A proposta da Mostra foi articulada a partir de uma pesquisa-intervenção intitulada “Arte, Clínica e Política: os CECCOS como interstício entre a Rede de Atenção Psicossocial e a cidade”, desenvolvida pela psicóloga Júlia Shenkel e orientada pela Professora Ana Karenina Amorim (PPGPSI UFRN), e ligada à Linha de Pesquisa Produção de Subjetividade, Política e Práticas de Resistência (Grupo Gentileza) e é umas das ações do Projeto de Extensão “Poéticas desviantes: apoio na organização do acervo artístico do Centro de Convivência e Cultura de Natal”.

Organizada por Julia Schenkel, Natália Campos, Roxane Sales, Jennifer Katarina, a Mostra CECCO – A arte vence o manicômio é uma realização do CECCO NATAL, IFRN, Centro Histórico e Grupo de Pesquisa Gentileza/UFRN. Conta com colaboração de Lenilton Teixeira, Kimi Han e César Filho, KurtanaKombi; e com o apoio da Prefeitura do Natal, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Cultura, Funcarte e Escola de Saúde UFRN. A mediação artística foi realizada por grupos formados por convivas, alunos do Curso de Produção Cultural do IFRN e do Curso de Psicologia (UFRN).

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